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    Uruguai começa a definir era pós-Mujica

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

    26/10/2014 02h43

    De um lado da cidade vinha o buzinaço, o enxame de bandeiras em vermelho, branco e azul, ao som do spot com pegada folclórica.

    Gente de todas as idades caminhava pela "rambla", vestindo camisetas de campanha e, não raro, com uma garrafa de mate. Era a turma da Frente Ampla, do presidente José "Pepe" Mujica e seu antecessor e candidato a sucessor, Tabaré Vázquez.

    De outro, um público nitidamente mais jovem, que preferia entoar o coro da canção-tema da campanha de seu opositor, Luis Lacalle Pou. A música grudou no ouvido de quem passou a última semana em Montevidéu e sua letra diz, repetidamente: "Somos hoje, somos agora".

    A noite de encerramento de campanha da eleição presidencial uruguaia, na última quinta, retratou o embate de gerações que deve se prolongar até o segundo turno, a ser disputado nas urnas no próximo dia 30 de novembro.

    De um lado, o veterano esquerdista que rompeu a hegemonia dos partidos tradicionais (colorado e blanco) ao ser eleito em 2005, inaugurando uma década de combate às diferenças sociais.

    De outro, o jovem conservador do Partido Blanco que prefere apostar numa agenda que responda aos interesses imediatos da classe média e do empresariado: segurança e menos intervenção do Estado na economia.

    Na campanha, Vázquez, 74, investiu em lembrar os avanços da Frente Ampla –redução de pobreza, inflação e desemprego.

    Já Lacalle Pou, 41, preferiu defender a renovação das velhas estruturas e apontar a economia para o futuro. Propôs que Mujica e Vázquez deixassem a disputa política e formassem um "conselho de anciões". Chegou a pendurar-se num poste para mostrar agilidade.

    EMPATE

    De acordo com as últimas pesquisas, Vázquez tem 42% dos votos, enquanto Lacalle Pou, 32%. Os dez pontos parecem uma vantagem larga, mas o terceiro colocado da disputa, o senador Pedro Bordaberry, do partido Colorado, tem 15% dos votos e deve apoiar Lacalle Pou. As pesquisas para o segundo turno apontam empate técnico.

    Ainda que o resultado esteja indefinido, analistas consideram que os partidos não tiveram bruscas mudanças com relação à sua base de apoio e que o cenário caminha para uma disputa apertada e sem que alguém tenha maioria no Congresso.

    "É uma eleição de estabilidade assombrosa, será a votação com menos oscilações da história uruguaia", diz o analista Daniel Chasquetti.

    Junto à eleição, será realizado um plebiscito sobre a redução da maioridade penal, dos 18 aos 16 anos, proposto pelo Partido Colorado e apoiado pelo Partido Blanco.

    Em jogo no pleito estará, também, o legado do governo de Mujica.

    Responsável por projetar o Uruguai internacionalmente em razão da aprovação da lei da maconha (que libera e regulamenta a produção e a distribuição), do aborto e do casamento gay, ele deixa o governo com 58% de aprovação.

    Entre as falhas apontadas pela oposição estão a falta de investimentos na indústria e na infraestrutura, visando o período de desaquecimento das economias da região, e o aumento da violência.

    Em entrevista à Telesur, Mujica, que entrega o cargo ao sucessor em março, admitiu que "poderia ter feito mais", mas que a questão da segurança tem sido usada indevidamente como propaganda negativa com relação à sua gestão.

    "Somos o país mais seguro da região. E o que demonstra isso é meu próprio dia a dia, não ando com uma parafernália de cem seguranças. Desafio encontrarem outro presidente que viva assim."

    Com a bandeira do Uruguai numa mão e a outra segurando a de sua mulher, Lacalle Pou disse no encerramento da campanha que a política "vive novo tempo e os políticos devem se adaptar a ele".

    Já Vázquez disse que esperava que o povo fosse "inteligente" ao não votar pela redução da maioridade penal.

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