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    Análise: Ocidente pode escolher cooptar Putin, em vez de enfrentá-lo

    ANGELO SEGRILLO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    28/10/2014 02h00

    No momento em que se comemora o aniversário de 25 anos da queda do Muro de Berlim, estaria a Rússia (frente ao Ocidente) de volta ao ponto de partida –ou seja, em uma nova Guerra Fria?

    Essa questão, que analiso em meu recente livro narrando a história do país desde a derrubada do muro, é complexa. Eis alguns pontos a serem considerados.

    Primeiro de tudo: certamente uma "Guerra Fria" hoje não poderia ser comparada à Guerra Fria pós-Segunda Guerra Mundial.

    Naquela época de bipolaridade, havia duas superpotências em confronto. Apesar de a Rússia até hoje surpreendentemente continuar a ter um arsenal nuclear maior (mais ogivas) que o dos EUA, sua situação econômica e militar se deteriorou em relação aos tempos soviéticos e ela claramente não está em igualdade de condições com os norte-americanos.

    O presidente Vladimir Putin é antiocidental?

    Na Rússia, três grandes correntes ideológicas se formaram em relação ao Ocidente: os ocidentalistas de um lado e, de outro, os eslavófilos e eurasianistas (que são antiocidentais).

    Muitos observadores classificam Putin ora como eslavófilo ora como eurasianista.

    O presidente Putin é, na verdade, um ocidentalista moderado.

    Fã do ocidentalista-mor Pedro, o Grande, no início de seu primeiro mandato ele colaborou com o Ocidente, especialmente na luta contra o terror pós ataques de 11 de Setembro.

    Entrou em tensão com o Ocidente (na verdade, com os EUA) após episódios que pareciam dirigidos contra a Rússia (expansão da Otan, a aliança militar ocidental, derrubada do presidente pró-Rússia da Ucrânia, Viktor Yanukovich, entre outros).

    Se o Ocidente souber cooptá-lo, e não meramente confrontá-lo, os resultados poderão ser melhores.

    A Rússia voltará a ser uma grande potência?

    Provavelmente sim. Afinal, o temporário enfraquecimento do país durante a crise econômica pós-soviética nos anos 1990 sob o então presidente Bóris Iéltsin foi uma anomalia.

    GUERRA DE FALCÕES

    Historicamente o país sempre foi ou uma grande potência (sob o czarismo) ou uma superpotência (como na União Soviética).

    A recuperação econômica deverá ter como consequência natural sua volta ao status de grande potência.

    Voltará a Guerra Fria?

    Não sou fatalista sobre isso, pois Putin não é antiocidental a priori.

    Políticas bem direcionadas (menos confrontativas e mais cooptativas) podem diminuir as atuais tensões.

    O problema é a vontade política para implementá-las, pois "falcões" de ambos os lados trabalham em sentido contrário.

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