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    Análise: Disputa pela Esplanada das Mesquitas pode agravar tensão

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI

    31/10/2014 02h00

    Quando a Folha se encontrou com Yehuda Glick, há um ano, ele logo evidenciou posição favorável em relação à presença de judeus na Esplanada das Mesquitas.

    A reza judaica nesse lugar específico não é uma demanda da maioria no país, nem a construção de um Terceiro Templo, mas Glick tomou a si a tarefa de avançar rumo a esses objetivos.

    Assim, ele organiza com ânimo –atendia ao celular durante toda a entrevista– as visitas de judeus ao que é hoje um santuário sob controle muçulmano.

    Em não poucas ocasiões, o tour foi recebido por palestinos como provocação. Muçulmanos respondem muitas vezes com agressões verbais e físicas, agravando o atrito e mantendo presente, ali, a tensão das narrativas.

    O monte Moriá, onde foi construído a partir do século 7 o complexo islâmico do Domo da Rocha e da Mesquita de Al-Aqsa, é considerado sagrado também ao judaísmo.

    A tradição sugere que foi ali que Abraão se dispôs a sacrificar seu filho. O rei Salomão teria erguido, no mesmo ponto, seu templo, destruído pela Babilônia no século 6 a.C –e, uma vez refeito, desmontado pelos romanos no século 1º. Muçulmanos creem que Maomé, seu profeta, tenha estado ali antes de sua "viagem noturna".

    O que querem movimentos como o Instituto do Templo, ao qual Glick é ligado, é reconstruir um "Terceiro Templo" para que se torne, outra vez, centro de sua fé. Ignorando de certa maneira que, para isso, terá de ser contornado o inconveniente histórico de que a Esplanada seja hoje ocupada por dois dos principais monumentos do islã.

    O atentado contra sua vida, nesta semana, é a reação violenta de quem discorda desse discurso. Não pela figura de Glick em si, um simpático ruivo de modos gentis –mas pela estrutura política que se monta em torno da ideia de restabelecer a hegemonia israelense no local.

    Quando o atirador lhe atacou, Glick havia acabado de discursar em um evento assistido pelos parlamentares de direita Miri Regev (Likud) e Moshe Feiglin, por empresários e por líderes religiosos.

    Também política foi a reação, com o impedimento à entrada de muçulmanos para rezar na Esplanada e a subsequente afirmação da liderança palestina de que Israel declarava "guerra".

    Se concretizada a promessa de uma "sexta-feira de raiva", essas semanas, que já vinham tensas, só tendem a se agravar.

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