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    Fluxo de jihadistas para Iraque e Síria é 'sem precedentes', afirma ONU

    SPENCER ACKERMAN
    DO GUARDIAN

    31/10/2014 16h57

    A ONU alerta que o influxo de jihadistas estrangeiros para os conflitos do Iraque e da Síria atingiu "escala sem precedentes" e que muitos deles provêm de países que anteriormente não haviam fornecido combatentes para as fileiras do terrorismo mundial.

    Um relatório do Conselho de Segurança da ONU obtido pelo "Guardian" constatou que 15 mil pessoas viajaram à Síria e ao Iraque para combater pelo Estado Islâmico e grupos extremistas semelhantes. Eles provêm de mais de 80 países, afirma o relatório, "o que inclui um grupo de países que não haviam enfrentado desafios anteriores com relação à Al Qaeda".

    A ONU afirmou que não era possível determinar se a Al Qaeda se beneficiaria desse influxo. Ayman al-Zawahiri, o líder da Al Qaeda que expulsou o EL de sua organização, "parece estar manobrando para manter a relevância", aponta o relatório.

    Os números da ONU reforçam recentes estimativas dos serviços de inteligência dos EUA sobre o escopo do problema dos combatentes estrangeiros, que o relatório da ONU considera ter se agravado apesar das ações agressivas das forças antiterroristas e das redes mundiais de vigilância.

    "Os números de 2010 para cá são muitas vezes mais altos que o número cumulativo de combatentes estrangeiros nas fileiras terroristas entre 1990 e 2010 — e estão crescendo", afirma o relatório produzido por um comitê do Conselho de Segurança que monitora a Al Qaeda.

    O relatório da ONU, uma atualização sobre a expansão do terrorismo transnacional e os esforços para estancá-lo, valida a alegação do governo Obama de que "o núcleo da Al Qaeda continua fraco". Mas sugere que o declínio da Al Qaeda resultou em uma explosão de entusiasmo jihadista por suas organizações sucessoras ainda mais poderosas, principalmente o EI.

    Essas organizações se interessam menos por ataques fora de suas fronteiras. "Ataques verdadeiramente transnacionais — ou ataques contra alvos internacionais — continuam a ser minoria", avalia o relatório. Mas o texto indica que muito mais nações agora enfrentarão o desafio de combatentes experientes voltando do conflito na Síria e Iraque.

    Ingressando em um debate que tem implicações legais para a nova guerra de Barack Obama contra o EI, a ONU define a organização como "dissidência" da Al Qaeda. Considera a congruência ideológica entre os dois grupos suficiente para categorizá-los como parte de um movimento mais amplo, apesar de a Al Qaeda ter formalmente excomungado o EI em fevereiro.

    "O núcleo da Al Qaeda e o EI buscam objetivos estratégicos semelhantes, ainda que com diferenças táticas em termos de sequenciamento e diferenças substantivas quanto ao pessoal de liderança", afirma a ONU.

    Disputas de liderança entre as organizações são refletidas pelo formato de sua propaganda, na interpretação da ONU. Uma adesão "cosmopolita" a plataformas de mídia social e à cultura da Internet pelo EI ("como quando extremistas postam fotos de gatinhos") tomou o lugar das "mensagens longas e túrgidas" da Al Qaeda.

    O mais recente vídeo de Zawahiri tinha 55 minutos de duração, enquanto os membros do EI usam incessantemente o Twitter, Snapchat, Kik, Ask.fm, em um aparato de comunicação "que não sofre obstáculos por conta de estruturas organizacionais".

    A falta de "disciplina nas mensagens de mídia social" do EI aponta para uma liderança que "reconhece o terror e o valor de recrutamento de mensagens multicanais e em múltiplos idiomas, em mídia social e outras mídias", refletindo um quadro de membros mais jovem "e mais internacional" do que o das diversas afiliadas à Al Qaeda.

    Com arrecadação da ordem de US$ 1 milhão ao dia apenas com suas operações de contrabando de petróleo, o EI controla territórios com uma população de cinco a seis milhões de pessoas no Iraque e Síria — similar ao número de habitantes da Finlândia.

    O tesouro do EI conta também com receitas da ordem de US$ 45 milhões em resgates pagos por pessoas sequestradas, segundo o relatório da ONU. Familiares de James Foley, um jornalista norte-americano vítima do EI, questionaram a política dos EUA de recusar pagar resgates com o argumento de que isso encorajaria mais sequestros.

    Dois meses de guerra aberta liderada pelos EUA contra o EI tiveram resultados insatisfatórios por causa da falta de forças terrestres aliadas capazes de conquistar território do EI, já que Obama descartou participação direta dos EUA nos combates terrestres.

    Na quinta-feira no Pentágono, o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, disse que os EUA nem começaram a verificar os antecedentes de rebeldes sírios que poderiam compor o exército de combate ao EI — os EUA desejam formá-lo na Síria.

    Dempsey encorajou o governo do Iraque a armar diretamente as tribos sunitas para que possam resistir aos avanços do EI na província de Anbar, no oeste do país.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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