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    Chanceler da Ucrânia espera mais apoio político do Brasil

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    14/11/2014 02h00

    O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Pavlo Klimkin, 46, afirma que espera "mais apoio político do Brasil" no conflito com separatistas pró-Rússia no leste do país.

    Em entrevista por e-mail à Folha, Klimkin disse confiar que os valores "democráticos" para o Brasil são tão "importantes" quanto os seus "interesses econômicos".

    A afirmação é uma possível referência às ligações do governo brasileiro com o russo, sobretudo no Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

    Yves Herman - 8.out.2014/Reuters
    Pavlo Klimkin, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, durante entrevista em Bruxelas (Bélgica)
    Pavlo Klimkin, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, durante entrevista em Bruxelas (Bélgica)

    Klimkin, que assumiu em junho a diplomacia ucraniana, deixou claro a insatisfação com a neutralidade brasileira na resolução da ONU contra a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia neste ano.

    "Estaríamos mais felizes em ver o país [Brasil] na lista daqueles que apoiaram a resolução", afirmou.

    O ministro buscou ainda justificar a dificuldade em cumprir o cessar-fogo anunciado em setembro e em retomar territórios ocupados por separatistas, que ele chama de "terroristas".

    *

    Folha - O cessar-fogo tem se mostrado frágil. Como acreditar em paz na Ucrânia?
    Pavlo Klimkin - Infelizmente, desde o cessar-fogo, mais de cem soldados ucranianos foram assassinados. A situação está longe de ser pacífica. Nossas forças estão sob o fogo dos terroristas e, claro, em alguns casos precisam revidar. As forças ucranianas estão prontas para defender nosso país, mas nossa busca é pela paz e para salvar vidas dos dois lados.

    Os separatistas declararam independência e controlam áreas estratégicas. Por que é tão difícil retomar territórios?
    Nosso princípio básico é evitar baixas entre os civis. Nós não estamos dispostos a combater os ataques de terroristas em áreas residenciais. Eles sabem disso e focam exatamente nesses lugares.
    Não precisamos atingir objetivos militares a qualquer preço.
    No curto prazo, temos de atingir o real cessar-fogo e implementar o que foi acertado. Depois, restaurar a integridade territorial da Ucrânia e chegar a um acordo sobre os princípios de descentralização para oferecer mais poderes às regiões e recuperar o leste do país.

    O Brasil foi criticado pela neutralidade na resolução da ONU contra a anexação da Crimeia pela Rússia. Havia alguma expectativa de que o país condenaria a Rússia?
    Somos gratos ao Brasil por não reconhecer a República da Crimeia como parte da Rússia, embora, é claro, estaríamos mais felizes em ver o país na lista daqueles que apoiaram a resolução das Nações Unidas.
    O Brasil é um ator essencial em termos globais, e acho que o governo brasileiro sabe que o apoio à independência, à soberania e à integridade territorial dos países é o princípio fundamental da segurança e da estabilidade global. Neste sentido, nós definitivamente precisamos de mais apoio político do Brasil como nosso parceiro estratégico e um aspirante a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

    Qual sua opinião sobre essa posição do Brasil?
    O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência da Ucrânia, em 1991, e agora precisamos do seu apoio para defendê-la.
    Eu estou profundamente confiante de que os valores democráticos são tão importantes para o Brasil quanto os seus interesses econômicos.
    A maior e mais consagrada democracia da América Latina conseguiria mais benefícios e mais prestígio, incluindo dentro do Brics, se apoiasse esses valores. A Ucrânia está cooperando com o Brasil em campos estratégicos, como o projeto do foguete de Alcântara, no qual nós não só vendemos nossa tecnologia mas também dividimos conhecimento com especialistas brasileiros. Dez deles receberam aprendizado na Ucrânia.
    O mesmo se dá com relação à tecnologia de insulina, a qual oferecemos para o governo brasileiro para o país produzir a sua própria insulina em vez de precisar importá-la.

    A recente eleição parlamentar na Ucrânia foi vencida por uma maioria pró-União Europeia. Isso vai ajudar o país a entrar para o bloco?
    O nosso objetivo de nos transformarmos em membro da UE permanece. A ideia de uma integração europeia conta com apoio integral na sociedade ucraniana e também se refletiu nas eleições parlamentares. O acordo de cooperação assinado neste ano é um passo muito importante. Depois de implementado, esperamos pedir adesão à UE em 2020.

    Recentemente, a Rússia concordou em manter o fornecimento de gás à Ucrânia num acordo apoiado pela UE. Esse acordo pode ter algum impacto na crise militar?
    Talvez mais simbólico do que prático. As negociações demonstraram que, apesar das discordâncias, Rússia e Ucrânia estão aptas a chegar a um acordo temporário através da UE. Agora, juntos, temos que atingir e implementar uma solução para o leste da Ucrânia.

    Excluindo a questão do gás, como a economia da Ucrânia tem sido afetada pela crise?
    Donetsk e Lugansk são regiões industriais altamente populosas. Por causa do conflito, a maioria dos seus negócios fechou ou suspendeu os trabalhos. Essa situação tem tido dramáticas consequências para os cidadãos. Outras regiões estão sofrendo economicamente. Apesar disso, o governo vem implementando reformas, e estamos abertos a investidores, com exceção da área de conflitos.

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