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    Venezuela sofre com queda do petróleo

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    19/11/2014 02h01

    Petroleiras geralmente se dedicam a encontrar, extrair, refinar e vender óleo bruto e derivados. Mas a estatal venezuelana PDVSA também constrói casas populares e planta cana-de-açúcar.

    O petróleo é a locomotiva do chavismo, o vasto projeto de redistribuição de renda fundado pelo ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013), que reduziu a miséria e garantiu aos socialistas vitórias eleitorais suficientes para se manter no poder até hoje.

    Por isso, a atual degringolada dos preços de óleo bruto é tratada como questão de sobrevivência por Nicolás Maduro, sucessor de Chávez.

    O barril venezuelano, mais barato que o tipo Brent por ser pesado, fechou a semana passada em US$ 70,83, quase US$ 2 a menos do que na semana anterior. É o nível mais baixo desde 2010.

    A tendência, fruto do salto na produção americana e da freada da demanda na Europa e na China, ameaça o equilíbrio financeiro da Venezuela, que depende quase exclusivamente do petróleo para arrecadar divisas fortes.

    Entre as potências petroleiras, apenas Rússia e Irã apoiam a proposta venezuelana de cortar a produção para elevar preços. O tema será debatido em reunião da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) no dia 27, mas é improvável o barril voltar aos US$ 100 almejados por Caracas.

    Editoria de Arte/Folhapress
    O FIM DO SONHO Setor petroleiro venezuelano enfrenta dificuldades

    Maduro admitiu a adversidade: "Perdemos 30% dos ingressos em dólar só neste último mês; não é pouca coisa".

    Na segunda, ele disse ser inevitável reduzir subsídios que fazem da gasolina venezuelana a mais barata do mundo (R$ 1 para encher o tanque de um carro médio), mas custam US$ 12 bilhões anuais ao Estado.

    Num aceno aos mais pobres, prometeu que o valor economizado será usado em programas sociais conhecidos como "missões."

    Reduzir o subsídio, porém, pode causar disparada generalizada dos preços, acirrando uma inflação já em 63%. "Se aumenta a gasolina, tudo aumenta", resmunga o taxista José Miguel.

    O cenário é politicamente arriscado para Maduro antes da eleição parlamentar de outubro de 2015. Sua popularidade não passa de 30%.

    Em 1989, protestos pela alta da gasolina deixaram 276 mortos, pavimentando a ascensão política do então militar opositor Hugo Chávez.

    A queda na entrada de divisas também agrava a escassez de remédios e outros produtos importados, como desodorante, já que o governo monopoliza o acesso dos importadores aos dólares.

    Quanto menos moeda forte circulando, maior o abismo entre a cotação oficial (de 6,3 bolívares/dólar) e a paralela (de 100 bolívares/dólar).

    O governo também está sendo pressionado a reduzir o envio de petróleo subsidiado a países aliados e a vender a filial da PDVSA nos EUA.

    MENOS POBREZA

    No total, a PDVSA injetou US$ 205 bilhões em programas sociais desde 2001. A estatal tem até uma filial de supermercados a preços subsidiados, a PDVAL.

    Esses mecanismos ajudaram a reduzir a taxa de pobreza de 49% em 1999 para 26% em 2012, segundo a ONU.

    "Nossa política de incorporação social prioriza o ser humano", disse à Folha o deputado chavista Ricardo Sanguino, presidente da Comissão de Finanças do Parlamento.

    Sanguino atribui dificuldades à "guerra econômica" travada pela oposição e argumenta que os gastos são necessários para compensar o deficit social acumulado nos governos pré-Chávez.

    Críticos, porém, lembram que outros países petroleiros não só se preparam para a baixa dos preços, criando fundos soberanos, como se beneficiam dela ao incentivar a demanda global.

    "A Venezuela torrou o dinheiro e se vê sem saída: se fizer ajustes, pagará o custo político; se não fizer, será um suicídio", diz o ex-diretor da PDVSA José Toro Hardy.

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