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    Obama contraria promessa e aumenta papel dos EUA no Afeganistão

    DE SÃO PAULO
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    22/11/2014 10h56

    O presidente dos EUA, Barack Obama, autorizou discretamente um aumento da presença do seu Exército no Afeganistão em 2015, segundo o jornal "The New York Times".

    A decisão contraria anúncio feito pelo próprio Obama, em maio, de que forças norte-americanas não participariam de combates no Afeganistão no próximo ano e de que os 9.800 soldados que ainda estão no país se limitariam a treinar forças afegãs e a caçar os "remanescentes da Al Qaeda".

    Pela ordem assinada por Obama há poucas semanas, soldados norte-americanos poderão empreender missões contra o Taleban e outros grupos militantes que ameacem forças dos EUA ou o governo afegão. Também estão autorizados a usar caças, bombardeiros e drones para dar apoio aos soldados afegãos em missões de combate.

    A decisão, segundo o jornal norte-americano, foi resultado de um longo debate que expôs a tensão entre dois objetivos conflitantes da administração Obama: a promessa de acabar com a guerra do Afeganistão e a demanda de que os soldados possam completar com sucesso suas missões pendentes no país. A missão atual estava para terminar em 31 de dezembro.

    Alguns dos principais assessores civis de Obama teriam feito objeção ao aumento da presença no Afeganistão, dizendo que seria arriscado colocar vidas em risco no próximo ano em operações contra o Taleban. Os militares, porém, exigiram que Obama autorizasse soldados norte-americanos a atacar o Taleban, a rede Haqqani e outros grupos extremistas que ameaçassem as forças dos EUA.

    "Havia uma escola de pensamento que queria uma missão muito limitada, focada somente contra a Al Qaeda", disse uma autoridade dos EUA. "Mas os militares ganharam o que queriam."

    Autoridades norte-americanas dizem que duas questões mudaram o rumo do debate desde a promessa de maio.

    A primeira foi o avanço das forças do Estado Islâmico no norte do Iraque e o colapso do Exército iraquiano, que atraiu críticas a Obama por retirar soldados do Iraque deixando o país mal preparado para se defender sozinho.

    De acordo com congressistas dos EUA, tanto governistas quanto oposicionistas, a fragilidade do Iraque atraiu críticas à estratégia de Obama para o Afeganistão. Segundo eles, o presidente segue um cronograma muito reduzido, que impede esforços para treinar e aconselhar forças de segurança afegãs - potencialmente deixando-as vulneráveis a ataques de extremistas.

    A segunda questão foi a transferência do poder no Afeganistão ao presidente Ashraf Ghani, que é bem mais aberto à expansão do papel militar dos EUA em seu país do que seu predecessor, Hamid Karzai.

    De acordo com uma alta autoridade afegã, nas últimas semanas tanto Ghani quanto seu novo assessor para segurança nacional, Hanif Atmar, solicitaram que os Estados Unidos continuem combatendo as forças do Taleban em 2015, ao invés de se focarem apenas na Al Qaeda. Ghani também suspendeu as limitações que Karzai impôs a ataques aéreos dos EUA e missões conjuntas.

    O general John F.Campbell, comandante dos EUA no Afeganistão, desenvolveu uma relação de trabalho próxima com o novo governo afegão. "A diferença foi como que da noite para o dia", disse ele por e-mail. "O presidente Ghani procurou e acolheu a comunidade internacional. Temos uma oportunidade estratégica que não tivemos com o presidente Karzai."

    O Pentágono pretende liderar o treinamento das forças afegãs no sul e no leste do Afeganistão, com a Itãlia também operando no leste, a Alemanha no norte e a Turquia em Cabul. Mas, ao final do próximo ano, metade dos 9.800 soldados americanos devem deixar o Afeganistão. Os restantes ficariam em Cabul e Bagram, e iriam embora ao final de 2016, permitindo a Obama dizer que acabou com a guerra no Afeganistão antes de terminar seu mandato.

    Como o presidente disse em maio, "acho que os americanos aprenderam que é mais difícil acabar com guerras do que iniciá-las."

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