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    Negros protestam contra "clichês raciais" em morte de jovem nos EUA

    RAUL JUSTE LORES
    DE WASHINGTON

    27/11/2014 02h00

    Lideranças do movimento negro, a família de Michael Brown e de outros jovens mortos por brancos recentemente protestaram duramente contra os "clichês raciais" e a "desumanização" do jovem morto em Ferguson agosto passado.

    Em entrevista exibida no programa matutino de maior audiência do país, "Good Morning America", da ABC, o policial Darren Wilson, 28, que matou Brown, disse que o jovem "parecia o demônio", era muito "ameaçador" e que lembrava Hulk Hogan, um astro da luta livre que costumava atirar seus adversários pelos ares.

    Acusações de racismo e do desequilíbrio da Justiça e da polícia americanas com os negros inflamaram protestos em 100 cidade pelo país.

    Os pais de Brown, Lesley McSpadden e Michael Brown Sr., disseram ontem à rede CNN que o policial "estava desumanizando" o filho deles, uma "tática" já usada diante dos jurados. Brown havia roubado cigarros de uma loja de conveniência antes de se altercar com o policial.

    A mãe reclamou especialmente da descrição física feita pelo policial, que afirmou se sentir "um menino de cinco anos segurando Hulk Hogan". Wilson tem a mesma altura que Brown tinha, 1,94m, com pesos diferentes: o policial pesa 98 quilos, enquanto a vítima tinha 132 kg.

    A mãe de Trayvon Martin, 17, adolescente morto na Flórida em 2012 por um vizinho igualmente inocentado pela Justiça, concorda com os pais de Brown. "Não me surpreendi com o resultado, ainda que eu quisesse me surpreender", disse Sybrina Fulton na TV americana. "O papo é o mesmo. Eles sempre se dizem ameaçados pelos negros, que o jovem negro é assustador".

    Do pastor Jesse Jackson, liderança desde os tempos da luta contra a segregação racial nos EUA, nos anos 60, ao pastor batista William Barber, liderança da Carolina do Sul, repetiram que a Justiça e a polícia americanas ainda são influenciadas por estereótipos raciais. "Não houve uma acareação profissional nesse caso", disse Jackson.

    No livro "The lynching of Black America" [o linchamento da America negra], o autor Philip Dray explica que termos como "besta negra" ou "fera negra" eram usados no século 19 antes dos linchamentos da Ku Klux Klan. Em 1992, no julgamento dos policiais que espancaram Rodney King, eles se referiam à vítima como "uma fera" e "demônio da Tasmânia".

    Muito também se debate sobre como a mídia americana explora o episódio. Para quem assiste as principais redes, os saques em Ferguson ganharam bastante mais espaço que as queixas da comunidade negra contra o resultado do grande júri.

    Apresentadores dos principais telejornais se peguntam no ar porque "'eles' não sabem fazer protestos pacíficos. O ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, tem sido convidado a falar em quase todos os principais canais –sua mensagem é de que os negros "deveriam falar mais sobre a violência entre negros do que reclamar da polícia".

    Protestos se espalharam pelo país na terça (25) à noite, mas em sua maioria foram pacíficos. Em Oakland, houve barricadas com pneus em chamas para fechar o tráfego e em Nova York um túnel foi bloqueado. Grupos de 500 a mil pessoas marcharam em cidades como Boston, Los Angeles e Washington.

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