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    Medidas de segurança contêm protestos contra morte em Ferguson

    RAUL JUSTE LORES
    DE WASHINGTON

    27/11/2014 02h00

    Protestar em Washington é fácil, mas é um mundo muito distante de Ferguson. Estive em uma passeata na capital americana, a 10 minutos na Casa Branca, uma das 100 marchas ocorridas em 40 cidades diferentes pelo país. Aqui se pôde protestar tranquilamente.

    Na cidade aonde Michael Brown, 18, foi morto por um policial branco, a polícia não tem permitido passeatas no meio da rua onde acontece a tragédia. Tudo para 'não atrapalhar o trânsito' da cidade de 21 mil habitantes, segundo o chefe de polícia local.

    Na terça (25), à noite, um dia depois de saques e vandalismos ali, a Guarda Nacional primeiro obrigou que as passeatas fossem na calçada e depois dispersou o público dizendo que quem continuasse ali seria detido por "desordem". 44 foram presos.

    Na mesma noite, cerca de 300 manifestantes fecharam uma das principais avenidas de Washington, a Massachusetts, depois de andarem por cerca de uma hora na Chinatown da capital americana, diante do maior ginásio da cidade, o Verizon, onde acontecem jogos da NBA e shows de rock.

    Das marchas que presenciei em Ferguson e Washington, é possível fazer um jogo de dez diferenças. Na capital, a polícia se manteve distante, fechando o trânsito com viaturas a medida que as pessoas se aproximavam, praticamente escoltando o grupo.

    Entre os policiais destacados, havia negros, brancos e hispânicos. Nenhum em uniforme camuflado. Nenhum tanque, blindado. Tampouco havia uma "área designada" para se protestar. Nem uma área "para a mídia".

    Como jornalista, pude circular livremente. Não vi nenhum policial empurrar quem protestava –em Ferguson até eu, jornalista, com crachá visível e bloquinho na mão, fui empurrado algumas vezes. Não havia mais de 50 policiais.

    Zero vandalismo, mas também ninguém jamais se sentiu ameaçado ou cerceado. Mas os manifestantes eram bem diferentes. Em Washington, um público bem vestido e multirracial usava poucos cartazes e menos ainda gritos de ordem. Havia mais brancos que negros.

    Os cartazes tinham mensagens como "Vidas negras importam", "O sistema não foi criado para nos proteger", "Sem justiça, sem paz". O médico Brad Hogan, 31, negro da Carolina do Sul, dizia estar ali "por pensar nos meus irmãos do Sul", mas que ele, morando no afluente noroeste da Washington, "nunca tinha sofrido com desmando policial".

    Em Ferguson, você contava nos dedos das mãos os brancos presentes. Mas a polícia era totalmente branca e usava equipamento de guerra. A cada hora, mudava-se a ordem: pode protestar aqui, não pode protestar mais, quem ficar será detido. Ontem havia 2200 guardas nacionais para 500 manifestantes. E um quarto da população da pequena cidade está abaixo da linha de pobreza americana.

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