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    Criminoso nazista teria morrido na Síria há quatro anos

    JODI RUDOREN
    DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

    01/12/2014 17h04

    Um importante caçador de nazistas afirmou nesta segunda-feira (1º) que o principal assistente de Adolf Eichmann, por muito tempo um dos fugitivos mais procurados do mundo, morreu há pelo menos quatro anos, na Síria, onde se escondeu da Justiça e serviu como assessor ao governo do país.

    Efraim Zuroff, diretor do escritório israelense do Simon Wiesenthal Center, disse que Alois Brunner, o assistente em questão, foi responsável pela deportação de 128,5 mil judeus para campos de extermínio, e o descreveu como "o braço direito de Eichmann". Eichmann, um dos principais arquitetos do Holocausto, foi capturado, julgado e executado por Israel em 1962.

    Brunner foi julgado in absentia e sentenciado à morte na França em 1954, e foi alvo de pelo menos duas tentativas de assassinato pelo Mossad, o serviço secreto israelense.

    "Ele era um notório antissemita, um nazista fanático e sádico", disse Zuroff em entrevista por telefone na segunda-feira, depois que o jornal britânico "Sunday Express" reportou sua confirmação da morte de Brunner. "A única entrevista conhecida que temos com ele foi a uma revista alemã em 1985; quando perguntado se tinha algum arrependimento, ele respondeu 'só lamento não ter matado mais judeus'".

    AFP
    O criminoso de guerra nazista Alois Brunner, em foto sem data.
    O criminoso de guerra Alois Brunner, em foto sem data; caçador de nazistas diz que ele serviu à Síria

    Zuroff disse que um agente dos serviços de inteligência alemães com extensa experiência no Oriente Médio - "uma fonte confiável, ao nosso ver" - havia informado o Wiesenthal Center cerca de quatro anos atrás de que Brunner havia morrido de causas naturais, mas que por causa da guerra na Síria, "nunca pudemos obter confirmação forense". Já que Brunner teria 102 anos hoje, disse Zuroff, "retirei seu nome da lista" de nazistas procurados.

    O Wiesenthal Center não anunciou a morte de Brunner quando o agente alemão a informou, em 2010, ou este ano, quando publicou sua lista anual de fugitivos sem incluir o nome dele. Zuroff diz que a informação só foi divulgada agora porque ele foi contatado pelo "Sunday Express".

    DEPORTAÇÕES

    Nascido na Áustria, Brunner aderiu ao Partido Nazista em 1931, se tornou parte da SS em 1938, e comandou o Escritório Central para a Emigração Judaica, sediado em Viena, entre 1939 e 1943, de acordo com o centro de pesquisa do Yad Vashem, o memorial e museu judaico do Holocausto, em Jerusalém.

    Quando ele assumiu o comando do campo de detenção de Drancy, em julho de 1943, informou o Yad Vashem, "as condições dos detentos se deterioraram rapidamente, e as deportações para Auschwitz foram aceleradas".

    Zuroff disse que Brunner esteve envolvido na deportação de 47 mil judeus da Áustria, 44 mil da Grécia, 23,5 mil da França e 14 mil da Eslováquia.

    Acredita-se que Brunner tenha se radicado em Damasco, a capital da Síria, em 1950, sob o nome de Georg Fisher. A. M. Rosenthal, antigo editor executivo do "New York Times", escreveu em 1991 que estrangeiros "conversavam com ele e ocasionalmente o fotografavam" em sua casa, na rua Haddad, 7. Um boletim noticioso francês reportou sua morte em 1992, mas a reportagem jamais foi confirmada.

    Zuroff disse que Brunner assessorou o antigo presidente Hafez al-Assad, da Síria, sobre segurança e terrorismo, e nos "maus tratos à comunidade judaica da Síria". Ao longo dos anos, ele acrescentou, Brunner perdeu um olho e dois dedos ao abrir cartas bombas endereçadas a ele, "que infelizmente não o mataram".

    "A importância disso é apenas a de que um alvo muito importante já não poderá ser levado à Justiça", disse Zuroff, "o que é muito triste, porque sublinha o fracasso da comunidade mundial em garantir que os responsáveis primários pela Solução Final se vissem forçados a pagar por seus crimes".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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