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    Republicanos avançam no eleitorado negro nos EUA

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    08/12/2014 02h00

    Em 24 de novembro, o senador republicano Tim Scott, da Carolina do Sul, se juntou ao coro dos que pediam calma na resposta, nas ruas, à decisão de um júri livrando do indiciamento o policial que matou um jovem negro em Ferguson, Missouri.

    "Incentivo todos os que estiverem preocupados com a morte de Michael Brown que transformem sua frustração, dor e raiva em formas significantes e produtivas de contribuir com nossas comunidades", disse, em comunicado.

    Desde que foram eleitos, em 4 de novembro, Scott e seus correligionários Mia Love e Will Hurd estão sob os holofotes na questão racial. Isso porque conquistaram, nas últimas eleições, espaços nunca antes ocupados por negros republicanos no Congresso americano.

    Scott, 49, que fora indicado para terminar o mandato de Jim DeMint –que renunciou ao posto– até 2015, foi, agora, o primeiro negro eleito no Senado no sul do país desde a Guerra Civil. Love, 38, é a primeira republicana negra a ser eleita para o Congresso. Hurd, 37, é o primeiro republicano no Congresso pelo conservador Texas.

    Os números mostram alta no apoio do eleitorado negro aos republicanos. Em 2008, quando o democrata Barack Obama foi eleito, 4% dos votos negros foram em republicanos. Em 2014, nas eleições legislativas, 10% dos eleitores negros votaram no partido.

    Editoria de Arte/Folhapress
    MAIS APOIO NEGRO% de votos de cada grupo nas eleições

    "Os republicanos conseguiram convencer mais pessoas do que os liberais gostariam de admitir de que vivemos numa sociedade pós-racial", diz Robert Luckett, diretor do centro de estudos afroamericanos da Jackson State University, Mississippi.

    A necessidade de se aproximar mais não só do eleitorado negro, mas principalmente do hispânico, foi percebida pelos republicanos após a reeleição de Obama. Em 2012, 93% dos negros e 71% dos hispânicos votaram no candidato democrata.

    Em relatório encomendado pelo comitê republicano logo depois, os autores recomendaram que o partido "incluísse mulheres e minorias" –que geralmente se identificam mais com a agenda democrata –nos esforços para recrutar candidatos.

    O resultado é que, para a eleição presidencial de 2016, o partido já tem mais opções identificadas com minorias, como Jeb Bush, casado com uma mexicana, e os filhos de cubanos Marco Rubio e Ted Cruz. Já o nome do neurocirurgião afroamericano Ben Carson, membro do Tea Party, vem ganhando força.

    O senador Rand Paul, do Tea Party, que na média das pesquisas de presidenciáveis republicanos feita pelo site Real Clear Politics aparece em segundo –atrás do ex-governador da Flórida Jeb Bush-, defende que o candidato do partido à Casa Branca poderá garantir ao menos um terço dos votos negros pressionando por reforma do sistema criminal, maior inclusão nas escolas e medidas como a criação de "zonas econômicas" com impostos reduzidos.

    Para o cientista político Peter Myers, da Universidade do Wisconsin, é clara a dificuldade dos republicanos em conseguir confiança das minorias por conta do posicionamento do partido em relação a temas como ações afirmativas. "Em outros temas, como religião e casamento gay, porém, parte dos eleitores negros é bastante conservadora", diz Myers.

    AGENDA

    Em relação a Scott, Love e Hurd, a principal crítica de grupos afroamericanos e políticos democratas é a ausência de propostas para a minoria em seu discurso de campanha. Tampouco se espera que o façam no Congresso.

    "Você considera um progresso [republicano] eleger um negro que vote contra os interesses de 95% da população negra da Carolina do Sul?", questionou o deputado democrata pelo Estado James Clyburn, ao comentar a eleição de Scott.

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