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    Minha História

    Minha História: Israelense que teve filho morto pelo Hamas luta pela paz

    DEPOIMENTO A
    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    11/12/2014 02h00

    RESUMO
    Yitzhak Frankenthal tinha todos os motivos para odiar os palestinos: em 1994, militantes do Hamas, grupo que governa Gaza, sequestraram e mataram seu filho mais velho, Arik. Em vez de odiar, esse pequeno empresário, hoje com 63 anos, dirige o Instituto Arik de Reconciliação, Tolerância e Paz (www.arikpeace.org). Esta é sua história, contada por e-mail.

    *

    Sou um sionista ortodoxo, um pequeno empresário até 1994, casado com Varda, psicóloga clínica.

    Não pense que superei a morte de meu filho mais velho, Arik, já faz 20 anos.

    A tragédia de perder um filho não pode ser superada. As noites em branco, as horas que passo sentindo a falta dele são horríveis, mas o pior de tudo é ficar diante de seu túmulo.

    Tenho outros quatro filhos e sete netos e luto pela paz por eles. Falhei uma vez e não o farei uma segunda vez.

    Sim, meu instinto paterno pede vingança e desenvolve o ódio, mas, como seres humanos, temos mais que sentimentos, temos julgamento racional.

    Com minha racionalidade, percebi imediatamente que perdi Arik não por causa dos palestinos, mas porque não há paz entre os israelenses e os palestinos.

    Se essa era minha conclusão, então eu tinha que agir para mudar essa situação, e é exatamente o que fiz imediatamente após a morte de meu querido filho Arik.

    Compus até "Uma balada para um filho", em que falo "do sentimento nascido do vazio/uma linguagem que estrangeiros não entenderão".

    Falo também de meu DNA israelense, o que não me impede de reconhecer que há uma profunda contradição entre o desejo do público de Israel pela paz, provado em pesquisas ao longo dos anos, e o fato de que esse mesmo público continua elegendo os mesmos líderes que fracassam em alcançar a paz.

    Qual é a origem dessa contradição? Aí é que entram nossas pesquisas e seus incríveis resultados.

    Tanto o público israelense como o palestino ergueram profundas barreiras psicológicas. Ódio, medo, falta de confiança, desespero etc.

    Quando as pessoas votam, agem com base em sentimentos, não com sentido comum.

    Se pudermos provocar um impacto emocional no público israelense, então ele agirá racionalmente e elegerá uma liderança que trará a paz. É o que venho tentando fazer.

    [O método usado por Frankenthal, que se chama "Pensamento Paradoxal", tem o aval de uma publicação científica norte-americana. Ele o descreve a seguir.]

    Nós tomamos os argumentos a que o público de Israel adere e, em vez de bater cabeça com cabeça com eles, apresentando argumentos contrários, nós adotamos sua própria linha de raciocínio e usamos sua lógica até o limite extremo.

    Dizemos a eles: "Claro que o conflito tem de continuar", porque assim continuaremos a nos sentir justificados moralmente e unidos.

    Ao adotar sua própria lógica, nós os levamos a reconhecer os problemas que essa lógica cria.

    Como resultado, eles começam a fazer perguntas racionais como "eu realmente preciso desse conflito?" ou "eu quero causar dor e morte simplesmente porque preciso desse conflito?".

    Os resultados foram incríveis: os israelenses [que aceitaram participar da pesquisa] começaram a assumir a responsabilidade pela situação. Mesmo entre os 59% dos participantes que se definiram como de direita [mais resistentes a um acordo de paz], 33% mudaram seu enfoque e entenderam que Israel não estava fazendo o suficiente para conseguir a paz.

    Agora, trabalho vigorosamente para levantar um grande projeto [usando o "Pensamento Paradoxal"] tanto em Israel como na Palestina.

    Como os palestinos não querem viver sob ocupação de Israel, ainda há, sim, esperança para a paz.

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