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    Europa deveria cuidar de seus próprios problemas, diz presidente da Turquia

    DE SÃO PAULO
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    15/12/2014 19h19

    O presidente turco, Recep Tayipp Erdogan, rejeitou as críticas da União Europeia sobre a operação policial que prendeu mais de vinte membros da imprensa no país no domingo (14). Para ele, o bloco "deveria cuidar de sua própria vida". "Não temos nenhum problema se a UE nos aceita ou não", afirmou.

    "Não iremos nos reconciliar com aqueles que inventam notícias. Não acreditem em mentiras. Coisas muito bonitas estão acontecendo na Turquia. Tudo isso é parte de um processo de normalização", disse, segundo o jornal turco "Hurriyet".

    Umit Bektas/Reuters
    Tayyip Erdogan durante a cerimônia em Ancara
    Tayyip Erdogan durante a cerimônia em Ancara

    A maioria dos detidos trabalha no jornal "Zaman" e no canal de TV Samanyolu, organizações ligadas ao grupo Hizmet, cuja filosofia é baseada nas ideias do pregador Fethullah Gülen. Também foram detidos ao menos três policiais aposentados.

    Gülen, que se autoexilou nos EUA em 1999, tornou-se um dos maiores críticos do governo nos últimos meses. Estima-se que seu movimento possua ao menos 7 milhões de integrantes na Turquia e ao menos 8 milhões em outros países, inclusive no Brasil.

    A tensão entre o governo turco e membros do Hizmet ganhou força em novembro de 2013, quando Erdogan, então premiê, defendeu o fechamento das escolas preparatórias para o vestibular (dershanes), um dos principais braços de atuação do Hizmet na Turquia.

    Em dezembro do mesmo ano, uma investigação policial revelou uma rede de corrupção que atingiu o diretor do Banco Central do turco e filhos de ministros do premiê.

    Na época, aliados do governo turco sugeriram que o Hizmet estava por trás dessas investigações. Para eles, o "timing" da denúncia, próximo às eleições municipais e presidenciais no país, era suspeito.

    Desde então, centenas de policiais e de promotores ligados ao caso foram destituídos ou transferidos pelo Executivo.

    No fim de fevereiro deste ano, em uma sessão conturbada, o Parlamento turco aprovou a lei que obriga o fechamento das dershanes até setembro de 2015, por 226 votos a 22.

    OPERAÇÃO

    A operação, levada a cabo pela polícia antiterrorista turca no domingo (14), ocorreu em treze cidades da Turquia, inclusive em Istambul. Ao menos 29 pessoas foram detidas, segundo a agência de notícias turca Anadolu.

    Sete pessoas já tinham sido liberadas na tarde de segunda-feira (15), mas Ekrem Dumanli, editor-executivo do "Zaman", e o administrador-geral do Samanyolu, Hidayet Karaca, continuavam em custódia no Departamento de Polícia de Istambul, segundo o "Zaman".

    Os detidos são acusados de fazer campanhas difamatórias contra o governo e de forjar evidências para tramar um golpe de Estado.

    Segundo o vice-premiê-turco, Bulent Arinc, a operação contra o "Estado paralelo" -uma das formas que o governo usa para se referir ao Hizmet- não foi uma ação política, mas parte de um processo judicial contra o movimento liderado por Gülen que corre desde 2011.

    "Esperamos que a investigação do caso seja conduzida de maneira justa e que as pessoas inocentes sejam liberadas e possam retomar suas vidas", disse.

    A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, disse ter ficado muito surpresa com a reação de Erdogan. Desde 2005, a Turquia negocia sua entrada no bloco.

    Em nota no domingo, ela havia dito que a operação do governo turco ia "contra os valores europeus" e era "incompatível com a liberdade de imprensa, que é o princípio da democracia".

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