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    'É o fim da Guerra Fria', diz Fernando Morais

    LUCAS FERRAZ
    DE SÃO PAULO

    18/12/2014 02h00

    A primeira vez que o jornalista e escritor Fernando Morais pisou em Cuba, nos primeiros dias de 1975, foi para fazer uma série de reportagens que se transformaria em seu segundo livro, "A Ilha", sobre a vida no país comunista.

    A partir de então, ele se aproximou do regime e voltou ao país todos os anos, "às vezes mais de uma vez por ano".

    Em 2011, o escritor publicou um novo livro sobre Cuba, "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", em que narra a história dos cinco cubanos que estavam presos nos EUA sob a acusação de espionagem.

    Para Morais, 68, a retomada das relações entre os países é uma "revolução" que trará grandes impactos para a economia cubana, sobretudo pelo turismo. Ele, contudo, lembra que o essencial, o embargo, ainda não acabou.

    "Não é só uma frase de efeito, mas a Guerra Fria acabou hoje [ontem] às 15h01", disse.

    Leia trechos da entrevista.

    FOLHA - Como recebeu a retomada das relações?

    Fernando Morais - O essencial e que castiga a população cubana [o embargo] não foi tocado. Obama, mesmo que quisesse, não poderia acabar com o bloqueio por decisão unilateral [depende do Congresso dos EUA]. O anacronismo ainda permanece.

    Ao longo do tempo, o açúcar deixou de ser o principal item da economia para dar lugar ao turismo, que hoje é a maior fonte de receita cubana. A expectativa das organizações de turismo é que a retomada aumente de 3 para 9 milhões o número anual de turistas americanos na ilha.

    Por causa da curta distância entre os países, o turismo ficará ainda mais fácil. Com esses 6 milhões a mais de americanos, estima-se um aumento na economia de US$ 15 bilhões, cifra que representa 25% do PIB de Cuba.

    Dá para dizer que o anúncio põe um fim à Guerra Fria?

    Não é só uma frase de efeito, mas a Guerra Fria acabou hoje [ontem] às 15h01. O anúncio foi inesperado. Finalmente Obama fez jus ao prêmio Nobel que ganhou. O reatamento das relações vai produzir uma mudança imediata na economia cubana. A viagem de avião entre Miami e Havana leva 18 minutos. Certamente eles vão colocar ferryboat para as pessoas irem de carro. É uma revolução. É importante do ponto de vista político porque degela as relações, acaba com essa idiossincrasia que não serviu para nada.

    Alguma chance de mudança do regime com a dissidência?

    Certamente vai mudar. A presença dos turistas americanos areja muito a sociedade. Cuba já vinha experimentando mudanças profundas depois que Raúl Castro chegou ao poder. Hoje 500 mil pessoas trabalham por conta própria, o que é expressivo num país de 11 milhões. Cuba está estimulando a iniciativa privada, processo semelhante ao que passou a China.

    O Brasil está bem posicionado na transição cubana?

    Claro que está. Quem criticou o porto de Mariel, financiado pelo BNDES, agora vai ter que engolir. Mariel é uma cópia do processo que a China viveu, com a criação de zonas com leis específicas. A ativação vai transformar Mariel no entreposto mais próximo dos EUA em todo o mundo.

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