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    Governo brasileiro teve participação ativa, diz Marco Aurélio Garcia

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

    19/12/2014 02h00

    O Brasil participou ativamente das conversas que levaram à reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos, recebendo mensagens de Raúl Castro, e apostou acertadamente no processo de mudanças econômicas na ilha ao investir em projetos como o do porto de Mariel, que foi alvo de críticas.

    Essa é a opinião de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência.

    Abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone.

    *

    Folha - Qual é o significado da normalização das relações entre EUA e Cuba?
    Marco Aurélio Garcia - Foi removido o último resquício da Guerra Fria. Foi uma atitude corajosa do presidente americano, Barack Obama, e uma decisão madura e sensata do presidente cubano, Raúl Castro. Isso cria condições para um diálogo fluido entre os Estados Unidos e a América Latina.

    É inexorável que a abertura econômica leve à abertura política?
    Já está ocorrendo mudança, embora eu não goste da palavra abertura, porque pressupõe que era fechado. A abertura econômica terá influência no tecido social e político inevitavelmente.

    A reaproximação ajuda também Brasil e EUA a descongelarem relações?
    As relações entre Brasil e EUA são muito boas e sofreram perturbações menores por causa da espionagem. Temos clara a importância dos EUA no mundo e nas Américas. E os EUA também têm essa percepção. Tanto que o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, tentou falar com a presidente Dilma para antecipar o anúncio que Obama faria sobre o reatamento com Cuba.
    Isso decorre do fato de nós estarmos há alguns anos envolvidos nas conversas entre Cuba e EUA. Fomos procurados em iniciativas como a de troca de prisioneiros.
    O presidente Raúl Castro me pediu que transmitisse a ele informações sobre a disposição dos dois países e me disse: "estamos dispostos a negociar de A a Z, não temos restrições". Isso foi há um ano. Aí eles fizeram as conversas com a mediação do Vaticano, que levaram ao anúncio.

    O que muda em relação ao Brasil?
    Os países da América Latina, quando discutiam com os EUA, voltavam-se para o tema de Cuba. Mas havia consciência do problema, em parte do departamento de Estado dos EUA, e Thomas Shannon [ex-embaixador no Brasil e atual assessor especial de John Kerry] teve papel importantíssimo, por seu pensamento lúcido e pela necessidade de reconhecer que um passo tinha de ser dado.

    O investimento do Brasil em Cuba, principalmente no porto de Mariel, foi alvo de muitas críticas...
    As críticas aos investimentos brasileiros em Cuba são ideológicas. Estamos operando com critérios realistas. Mariel é um empréstimo e será pago com juros. Quando o ex-chanceler Celso Amorim afirmou que os brasileiros querem ser os primeiros amigos de Cuba, não era apenas retórica.
    Nós tínhamos confiança no processo econômico e político importante que já estava em curso em Cuba, e nós apostamos nisso.

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