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    Ruas de Cuba são um museu vivo de carros clássicos mal conservados

    DANIEL TROTTA
    DA REUTERS

    26/12/2014 18h53

    Luis Abel Bango passou sete anos procurando seu carro dos sonhos, um Chevy Bel Air 1957. Finalmente encontrou-o no extremo oeste de Cuba, comprando do dono original pelo equivalente a R$ 15 mil.

    Preto e branco, com quatro portas, o carro foi mantido intacto pelo dono, com todos os acessórios cromados como os ornamentos semelhantes a foguetes que tornam o Chevy 57 um dos favoritos dos colecionadores. "O pacote inteiro estava quase completo", disse Bango, embora precisasse levar o carro para um diagnóstico completo e uma nova mão de tinta.

    Cerca de 60 mil carros antigos circulam pelas ruas de Cuba desde antes da revolução liderada por Fidel Castro em 1959, mas encontrar um colecionável de valor é um desafio. Para cada joia rara, há milhares batendo lata, em grande parte sem seus acessórios originais.

    Cuba e os Estados Unidos concordaram na última semana em reatar laços diplomáticos cortados após a revolução, quando o rabo de peixe ainda era uma inovação recente no design automotivo. Sob o acordo, o presidente dos EUA, Barack Obama, pretende remover as sanções econômicas impostas à ilha comunista.

    Numa terra de carências crônicas tornadas piores pelas sanções, os cubanos mantiveram os carros pré-revolucionários nas ruas, usando peças improvisadas e considerável engenho.

    Ainda assim, os colecionadores que esperam que uma onda de carros clássicos entre no mercado precisam conter suas expectativas. Mesmo que os Estados Unidos suspendam completamente o embargo comercial, uma lei cubana de 2010 proíbe que os carros sejam tirados da ilha.

    Além disso, a maioria dos carros antigos, espinha dorsal do trânsito urbano, sofreu muito em ruas esburacadas. Os consertos, embora inventivos, desapontariam qualquer purista.

    Tetos conversíveis são muitas vezes substituídos por placas de plástico, e muitos motores originais foram trocados por motores a diesel porque são mais baratos para andar.

    "O que se vê é um monte de carros que são só uns mamutes sobre rodas mantidos de pé com fita adesiva e arame", disse Lance Lambert, apresentador do programa de TV "The Vintage Vehicle Show".

    O mecânico cubano Alejando Torres comprou um Chevy 57 com apenas pouco mais de 100 mil quilômetros rodados, do dono original, há dez anos. No que seria um sacrilégio nos Estados Unidos, ele adaptou um motor diesel Mitsubishi porque o original bebia demais e ficaria caro para rodar.

    Torres diz que pagou cerca de R$ 135 mil por ele, embora nos Estados Unidos o preço de um carro desses em excelentes condições não chegue a R$ 76 mil. "Talvez eu o vendesse se pudesse comprar um carro moderno a diesel a esse preço", disse Torres.

    Sob o sistema de partido único em Cuba, o mercado de carros novos é altamente regulado e um sedan novo custa mais de R$ 500 mil. Durante décadas, apenas carros pré-revolucionários podiam ser comprados e vendidos livremente, e é por isso que tantos continuaram a rodar.

    Os Chevys do começo da década de 1950 parecem ser os mais comuns, embora haja Fords, Buicks, DeSotos, Plymouths e Oldsmobiles. Ocasionalmente é possível ver algum gigantesco Cadillac do final da década de 1940 ou começo da década de 1950.

    Alguns carros em Cuba podem ter valor de curiosidade, mas "para colecionadores sérios, a curiosidade logo acaba", disse Phil Skinner, editor responsável pela seção de colecionáveis do Kelley Blue Book, que lista os preços de carros novos e usados.

    O fim do embargo a Cuba ajudaria principalmente os donos cubanos de carros clássicos a comprar peças. A maioria dos carros vale muito mais em Cuba do que valeria nos Estados Unidos. Eles não apenas perderam muitas das partes originais cobiçadas pelos colecionadores, como também trazem uma renda crucial a seus donos.

    Como táxis, os espaçosos carros podem acomodar meia dúzia de passageiros. Os cubanos se ensardinham neles pagando o equivalente a R$ 1, enquanto os turistas gostam de passear nos mais estilosos conversíveis por cerca de R$ 80 por hora.

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