• Mundo

    Wednesday, 08-May-2024 14:39:22 -03

    Reconstrução de Gaza após confrontos com Israel caminha a passos lentos

    DO "GUARDIAN"

    28/12/2014 02h00

    A reconstrução de Gaza, depois da guerra de 50 dias com Israel em julho e agosto, está acontecendo em um ritmo glacial. E apenas uma pequena parte do material foi entregue até agora.

    Em meio a críticas sobre o esforço para a reconstrução, o "Guardian" apurou que o controverso sistema de controle do fornecimento de material de construção –para evitar que caia nas mãos de grupos militantes do Hamas– foi corrompido.

    Um relatório divulgado pela ONG Oxfam neste mês alerta que menos produtos têm chegado à região em comparação ao período anterior à guerra, apesar da promessa de US$ 5,4 bilhões (R$ 14,5 bilhões) em doações neste ano e do acordo entre a Autoridade Palestina, Israel e a ONU para permitir a entrada do material em Gaza,

    O estudo aponta que apenas 287 caminhões entraram em Gaza em novembro e conclui que, "nesse ritmo, a reconstrução e o desenvolvimento podem levar décadas".

    As Nações Unidas estimam que 100 mil casas tenham sido danificadas ou destruídas no conflito –que matou 2.100 palestinos e mais de 70 israelenses–, afetando mais de 600 mil pessoas.

    Muitas ainda não têm acesso à rede municipal de abastecimento de água, e são comuns apagões diários de até 18 horas.

    O sistema que permite a entrada do material em Gaza –incluindo o monitoramento de distribuição e o uso do concreto– foi desenvolvido pelo enviado especial da ONU, Robert Serry.

    A medida foi uma exigência de Israel, que temia que o cimento chegasse ao Hamas e o grupo o utilizasse para fins militares, como na construção de túneis.

    Mas alguns membros da ONU e de grupos de ajuda internacional manifestaram, reservadamente, temor de que o sistema –que envolve inspeção, registro e monitoramento– fosse vulnerável à corrupção.
    'terríveis condições'

    Mohammed Abed/AFP
    Crianças em casa atingida nos confrontos com Israel na Cidade de Gaza; na inscrição, "Gaza é forte"
    Crianças em casa atingida nos confrontos com Israel na Cidade de Gaza; na inscrição, "Gaza é forte"

    Em visita à região em dezembro, Serry manifestou preocupação sobre o ritmo da reconstrução e suas condições "terríveis".

    "As dificuldades e a assistência financeira insuficiente pioraram a atmosfera na já devastada Gaza", disse.

    Apesar da promessa de qualificar cerca de 20 mil chefes de família para ajudar na reconstrução, o sistema para essa ajuda foi atingido por problemas e controvérsias.

    Os chefes de família são avaliados, registrados e recebem um cupom que lhes permite comprar uma quantidade determinada de material em armazéns controlados pelas Nações Unidas.

    Em recente visita a essas casas de cimento em Gaza, no entanto, o "Guardian" flagrou o cimento sendo revendido a poucos metros dos armazéns a um valor até quatro vezes maior, minutos depois da entrega dos cupons aos chefes de família.

    Em outros locais, o "Guardian" ouviu casos de oficiais que aceitam suborno para produzir cupons além do necessário para chefes de família –desse modo, o excedente poderia ser vendido no mercado negro.

    Em um dos maiores armazéns de Gaza, o gerente Maher Khalil reclamou da complexidade do sistema. "Fazemos o que devemos fazer."

    Há uma lista com os nomes dos chefes de família na porta do estabelecimento. Os funcionários conferem os documentos, o cupom e vendem o produto. "Nós dissemos aos inspetores da ONU que só podemos fiscalizar o que acontece dentro da loja."

    Caminhando nos arredores, o "Guardian" encontrou vários homens com carroças carregadas de cimento querendo vender ou comprar o produto.

    CERCO REPRODUZIDO

    "É uma vergonha o que está acontecendo", disse o economista Omar Shaaban.

    "O novo sistema de reconstrução reproduziu o cerco israelense a Gaza, mas desta vez é a ONU que o regula. A ONU está negociando a estabilidade com cimento –e nada muito além disso", afirma Shaaban, que diz que a maior parte do produto que chega é vendida no mercado negro.

    "Israel sabe disso. Serry sabe disso. O sistema é uma licença à corrupção. Uma licença para prolongar o cerco. Uma licença para que oficiais da ONU com altos salários o executem. O absurdo é que nada disso previne a reconstrução do Hamas."

    Enquanto isso, são evidentes as dificuldades enfrentadas por palestinos que tiveram suas casas destruídas ou danificadas.

    Para Catherine Essoyan, diretora regional da Oxfam, "é lamentável que tão pouco progresso tenha sido feito, dada a escala enorme de destruição e de necessidades".

    "O povo de Gaza está ficando cada vez mais frustrado com a falta de progresso", afirma.

    Tradução de MAGÊ FLORES

    Said Khatib/AFP
    Caminhões carregados de cimento pouco após entrarem no sul da Faixa de Gaza
    Caminhões carregados de cimento pouco após entrarem no sul da Faixa de Gaza

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024