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    Pegida surgiu como página no Facebook

    KATE CONNOLLY
    DO "GUARDIAN"

    07/01/2015 02h00

    O que começou há apenas três meses como uma simples página de Facebook com algumas centenas de membros agora se tornou um grupo com milhares de simpatizantes, convidados pelos organizadores para encontros e "passeios noturnos" pelas cidades alemãs. Na segunda-feira (5), o recorde de 18 mil pessoas saiu às ruas em Dresden.

    Do homem carregando um cartaz que pede pelo fim da taxa televisiva à mulher que faz campanha contra as galinhas criadas industrialmente, à primeira vista parece que um comício do Pegida tem algo que interessa a todos.

    E o mesmo se aplica à moda entre os participantes - de professores universitários de classe média, usando casacos acolchoados e chapéus, a vândalos trintões com camisetas Lonsdale (as letras NDSA das camisetas Lonsdale lembram as iniciais NSDAP do partido nazista, o que faz da grife há muito a marca preferida dos simpatizantes neonazistas).

    Fabrizio Bensch/Reuters
    Manifestantes do Pegida protestam em Dresden na última segunda (5)
    Manifestantes do Pegida protestam em Dresden na última segunda (5)

    Até o nome da organização, Pegida, ou "Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente", é bastante flexível; em Bonn, ela é conhecida como Bogida, e em Colônia como Kögida. Em Berlim, é Bärgida, para incorporar o "Bär", ou urso, o símbolo da cidade, e ganhar um lado fofo.

    Muitos dos lemas que os manifestantes carregam nas marchas são fáceis de aprovar, como "se você dormir na democracia, pode acordar em uma ditadura". Outros, como "cuidado com Ali Baba e seus 400 traficantes", parecem exagerar no esforço para tornar sinônimos o tráfico de drogas e a imigração.

    Isso talvez seja um tanto picareta quando o líder da organização, Lutz Bachmann, 41, tem ficha policial por tráfico de drogas e por furto. Bachmann, que quando menino vendia as salsichas produzidas pelo pai nos mercados natalinos de Dresden e hoje é dono de uma agência de publicidade, não perdeu apoio por conta dessas revelações, e até conseguiu tirar vantagem delas - especialmente do detalhe de como foi deportado rapidamente pela África do Sul depois de fugir para lá a fim de escapar à justiça da Alemanha.

    "Eles pelo menos têm um sistema de deportação que funciona!", ele brincou recentemente, causando risadas durante um comício.

    O que o Pegida representa é difícil de determinar, especialmente se você perguntar ao Pegida o porquê dos manifestantes serem instados instados a não conversar com o que chamam de "Lügenpresse", ou "imprensa mentirosa" (um termo de condenação também usado pelos nazistas, aliás), e os organizadores do movimento raramente dão entrevistas.

    Alguns falam, mas bem a contragosto. Mencionam o desejo de controles mais rigorosos de imigração, de manter os refugiados de guerra em suas terras, de forçar os estrangeiros que vivem na Alemanha a falar alemão mesmo em suas casas (proposta apresentada recentemente pela União Social-Cristão, partido irmão da agremiação dirigida pela primeira-ministra Angela Merkel), e de deportação mais rápida para os criminosos que busquem asilo no país (a exemplo do que aconteceu com Bachmann, presumivelmente).

    Suas frases muitas vezes começam por "não sou racista, mas", ou por "é injusto nos comparar aos nazistas", apesar da presença visível de neonazistas em meio a eles.

    Os comentaristas se referem aos manifestantes como "Wutbürger" ou "Frustbürger" - cidadãos zangados ou frustrados com tudo, da alta no custo de vida ao socorro para a Grécia. Mas os membros do movimento desprezam esses termos.

    O discurso de Ano Novo de Merkel, no qual ela instou os alemães a não se unirem àqueles que têm "preconceito, frieza ou até ódio em seus corações" claramente pouco fez para desanimar o movimento.

    Alguns participantes da manifestação da segunda disseram que a bronca da Mutti [mamãe], o apelido carinhoso de Merkel, serviu só para estimulá-los.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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