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    Manifestantes respondem por que participaram de marcha em Paris

    CLEUSA TURRA
    EM PARIS

    12/01/2015 02h00

    A marcha deste domingo (11) em repúdio ao terrorismo e em solidariedade às vítimas dos ataques da semana passada se espalhou pela França e levou 1,5 milhão de pessoas às ruas de Paris. O número equivale a 68% da população da capital francesa.

    Ouvidos pela Folha, participantes de diferentes origens, idades e religiões manifestaram razões para se juntar ao ato. Idosos recordaram barbáries do passado, um muçulmano lembrou que terrorismo não tem a ver com sua fé e um estudante denunciou que jovens excluídos são atraídos pelo terror. Uma menina curda de oito anos contou sua motivação: "Temos direito de rir".

    *

    NADA SERÁ IGUAL

    "Vim exorcizar minha emoção. Temos de nos recompor como cidadãos. Nada será como antes. Foram atos contra a nossa cultura, mas não acabarão com ela."
    Bernadette, 66 anos

    UMA BOA CAUSA

    "Vivi a guerra [1939-1945]. Pequena, vi nazistas dizendo aos meus pais: não se mexam, senão vocês morrem. Dormíamos com os porcos, enquanto eles ocupavam nossa casa. Estou aqui pelos meus netos. Quero defender a possibilidade de eles poderem usufruir de um país livre. O mundo está de olho na França. Precisamos mostrar o amor que temos pelos nossos valores."
    Paulette, 82

    Cleusa Turra/Folhapress
    Paulette, 82, participou de marcha em Paris em homenagem às vítimas de atentados terroristas
    Paulette, 82, participou de marcha em Paris em homenagem às vítimas de atentados terroristas

    UM OUTRO INFERNO

    "Eu estava na rue des Rosiers no massacre de trinta anos atrás [atentado ao restaurante judaico Jo Goldenberg, em 1982, que deixou seis mortos]. Da varanda da minha casa, vi pessoas morrerem. Hoje precisamos responder à altura, sem temor."
    Catherine, 52 anos

    HUMOR FRANCÊS

    "Sou defensora da liberdade de pensamento, da nossa cultura, do nosso humor, mesmo que às vezes desagrade alguém. É a liberdade de expressão que precisamos defender."
    Sophie, 58

    PROBLEMAS SOCIAIS

    "A falta de atenção da sociedade com os jovens excluídos, que não têm instrução ou que estão desempregados, permite que eles sejam capturados por terroristas, por espíritos fanáticos."
    Regine, 58, acompanhada das filhas gêmeas Margot e Mathilde, 20 anos, estudantes de geografia e biologia

    DNA DA FRANÇA

    "Tenho dupla nacionalidade (francesa e americana), mas me eduquei na França. Estava em Nova York no 11 de Setembro. Hoje estou aqui. É muita emoção. A liberdade está no DNA do nosso país. Somos livres. É essa liberdade, a igualdade e a fraternidade, valores caros para mim, que precisamos defender."
    Nelly, 50 anos

    CURAR A FERIDA

    "A França foi atingida e ferida profundamente no coração de seus valores. Só a união e o trabalho de todos vão curar essa ferida. A cicatriz ficará. É preciso transmitir mais os valores de civilidade. Devemos permanecer vigilantes e lúcidos."
    Hervé, 46 anos, consultor em energia nuclear, da Alsácia

    NÃO PODEMOS TEMER

    "Decapitaram a Redação do jornal, mas ele continua vivo. Os jornalistas não eram covardes. Nós, agora, não podemos ter medo."
    Marianne, da rua Nicolas-Appret, onde é a sede do Charlie Hebdo

    TRANSMITIR VALORES

    "Temos de integrar os mais pobres e excluídos, educando e transmitindo os valores de um país livre, para que não caiam no extremismo ou se sintam atraídos pela propaganda dos fanáticos hoje reunidos na Síria e no Iraque"
    Roman, 19, estudante, de Paris

    ISLAMISMO NÃO É ISSO

    "Esse tipo de ação não é legal. Não tem nada a ver com o islamismo."
    Abdoil, 20, muçulmano, de origem malinesa

    UM ESTADO LAICO

    "Vivemos em um país livre, laico. E é isso que os imigrantes vieram buscar aqui. A liberdade do espírito francês."
    Emanuel, 39, de Guiné-Bissau, há dois anos na França, trabalhador na construção civil

    Cleusa Turra/Folhapress
    Emanuel, que trabalha há dois anos na França, participa de marcha em Paris
    Emanuel, que trabalha há dois anos na França, participa de marcha em Paris

    TRISTEZA SEM FIM

    "Homens e mulheres foram mortos por seus desenhos, sua crença religiosa ou por serem judeus. Uma tristeza sem fim. Esses terroristas são falsos muçulmanos."
    Muriel e Jean-Pierre, estudantes

    TOLERÂNCIA

    "Católicos, judeus, muçulmanos, somos todos iguais. No supermercado judaico trabalhava um muçulmano. Devemos praticar a tolerância. É o que a escola republicana deve transmitir sempre aos mais novos."
    Veronique, 65, cliente do mercado judaico atingido em Porte de Vincennes

    COVARDIA, VERGONHA

    "Esses ataques foram uma covardia. Vergonhosos. A França é um país democrático e livre. É isso que temos que preservar."
    Bobo Guiné, 56, músico

    AMEAÇA REAL

    "Sou jornalista, sempre evitei participar de atos. Mas hoje meu lugar é aqui. Acho que desta vez nós sentimos mais perto a realidade terrorista e a ameaça concreta dela."
    Rosaly, jornalista, 38

    RESPEITAR DIFERENÇAS

    "Temos que nos orgulhar das nossas diferenças e reforçar esta união. Ela nos garante justamente a certeza de poder expressar essas diferenças."
    Gerard, 86 anos

    CONTRA OS QUE MATAM

    "Eles querem nos amedrontar. Estou aqui com meus pais contra as pessoas que matam. Eu me sinto bem de estar aqui."
    Maxime, 10 (filho de Olivier, 43, e Sandrine, 41)

    Editoria de Arte/Folhapress

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