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    Análise: Movimento anti-islâmico alemão ainda é uma força pequena

    GEORGE ARNETT
    DO "GUARDIAN"

    14/01/2015 12h32

    O movimento Europeus Patrióticos Contra a Islamização do Ocidente (Pegida) vem causando rebuliço na Alemanha nos últimos meses, atraindo milhares de pessoas para suas passeatas em Dresden.

    Apenas algumas centenas de pessoas participaram de suas manifestações iniciais, em outubro, mas esse número cresceu para 25 mil na segunda-feira (12 de janeiro). A marcha anterior, em 5 de janeiro, teve 18 mil participantes.

    O crescimento do Pegida é espelhado pela ascensão das pessoas que se opõem ao grupo: 8.000 pessoas participaram de uma manifestação contrária à última marcha.

    Apesar de serem descritos como "nazistas de terno", muitos dos partidários do Pegida afirmam que seu movimento não é racista. Seu manifesto de 19 artigos diz que refugiados de guerra e perseguidos políticos são bem-vindos no país, mas que as leis de imigração deveriam ser aplicadas com mais firmeza. O que isso significa, na prática, é que a expulsão deveria ser usada com muito mais frequência.

    O documento também expressa o desejo de que a cultura judaico-cristã da Alemanha seja protegida, mas que "integrierende Muslime!" (muçulmanos integrados) sejam aceitos. O líder do Ukip (Partido da Independência do Reino Unido), Nigel Farage, disse algo semelhante num debate recente no Parlamento europeu.

    O que torna tudo isso especialmente relevante é que o novo recorde de participação em manifestações do Pegida se deu na semana após os assassinatos em Paris. Desde o ataque da quarta-feira passada, o número de "curto" na página de Facebook do Pegida passou de 113 mil para mais de 130 mil.

    O Pegida recomendou a seus seguidores usar faixas pretas nos braços como sinal de luto pelas 17 vítimas. Mas seu post no Facebook disse que o grupo também está de luto devido ao massacre perpetrado pelo Boko Haram na Nigéria.

    Embora o Pegida não conte com qualquer representação política no momento, o grupo já teve discussões com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD). O partido antieuro ficou com 9,6% dos votos para o Parlamento estadual da Saxônia, na eleição do ano passado, e continua a mostrar resultados muito melhores na região, nas sondagens, que no nível nacional.

    Esse é um ponto que merece ser notado. Dresden fica na Saxônia, um dos Estados que compunham a antiga Alemanha oriental. Os partidos à esquerda ou à direita do que geralmente é visto como moderado costumam se sair melhor na Saxônia.

    O partido Die Linke, que tem vínculos diretos com os antigos comunistas da Alemanha oriental, lidera o governo na Turíngia desde as eleições do ano passado, sendo essa a primeira vez desde a queda do comunismo que o partido governa um Estado. Nas pesquisas de opinião, o partido também se mostra mais forte na Saxônia que o SDP, de centro-esquerda.

    Antes da eleição na Turíngia, Angela Merkel recomendou aos eleitores que "não deixassem Karl Marx voltar ao gabinete do premiê estadual".

    A chanceler -que é da CDU, de centro-direita-ainda é de longe a figura política mais popular do país, e a maioria dos alemães quer que ela se candidate a um novo mandato. Na última eleição federal o Linke recebeu 8,6% dos votos, três pontos percentuais menos que em 2009.

    Voltando para a Saxônia, onde os resultados eleitorais mostram que é provável que partidos radicais ganhem terreno, não chega a surpreender que a AfD e o Partido Democrático Nacional, de extrema direita, também se saiam melhor que no resto do país. E o Estado é um terreno fértil para a ascensão do Pegida.

    O grupo é um entre vários partidos de direita e antiestablishment que vêm ganhando terreno na Europa. Marine Le Pen, da Frente Nacional, está tendo resultados fortes nas pesquisas de intenção de voto na França, e a ascensão dos democratas suecos de direita quase obrigou à realização de uma nova eleição no país nórdico.

    O Pegida não está nem mesmo perto de tornar-se um movimento nacional, como a Frente Nacional francesa; ainda representa uma visão minoritária na Alemanha. Mas faz parte de um quadro mais amplo de uma Europa em que ideias antes vistas como periféricas vêm cada vez mais sendo vistas por eleitores frustrados como sendo aceitáveis.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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