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    Islâmicos reclamam de 'insulto' em nova edição de jornal satírico

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    15/01/2015 02h00

    Líderes religiosos muçulmanos condenaram a nova edição do jornal francês "Charlie Hebdo", a primeira após o ataque terrorista que matou 12 pessoas em sua sede, em Paris, em 7 de janeiro.

    A imagem de Maomé, profeta islâmico, na capa, chorando e segurando um cartaz com a frase "Je Suis Charlie" (Eu Sou Charlie), foi considerada um "insulto" pelo Irã.

    "O desenho fere o sentimento dos muçulmanos. O abuso da liberdade de expressão, estendido hoje no Ocidente, não é aceitável e deve ser impedido", disse um porta-voz da Chancelaria do país.

    Na Turquia, o vice-premiê, Yalcin Akdogan, afirmou que a edição do "Charlie Hebdo" é uma "difamação". "Da mesma maneira que condenamos os ataques em Paris, condenamos provocações contra símbolos islâmicos", disse.

    Um tribunal turco chegou a proibir que sites reproduzissem a capa. No país, só o jornal "Cumhuriyet", de Istambul e que faz oposição ao governo muçulmano, publicou algumas das charges desta edição do "Charlie Hebdo". Para evitar ataques, o jornal recebeu proteção da polícia.

    O jornal "Yeni Akit", que apoia o governo, criticou o semanário francês pela imagem de Maomé. Além da capa, outras charges, publicadas nas páginas internas dessa edição, satirizam o islamismo.

    Por meio de uma rádio, a facção radical Estado Islâmico acusou o "Charlie" de tentar "lucrar" após os ataques com uma edição que, para o o grupo, "insulta" o profeta.

    Em nota, a União Mundial dos Ulemás, sediada no Qatar e presidida pelo pregador Yussef Al Qaradaoui, ligado à Irmandade Muçulmana, disse que o jornal não "é sensato".

    "Se concordamos que [os autores do ataque] são uma minoria que não representa o islã, como podem responder com atos que não são dirigidos a eles, mas ao profeta venerado por 1,5 bilhão de muçulmanos?", indaga a nota.

    A instituição religiosa de Al Azhar (Egito) pediu aos seus seguidores que ignorem a edição. Em comunicado, disse que a atitude do jornal francês é fruto da "imaginação doente que viola as restrições morais e civilizadas".

    "A posição do profeta Maomé é muito maior e sublime para ser ofendida por caricaturas imorais", acrescentou.

    A capa já era criticada antes mesmo de o jornal ir às bancas nesta quarta (14).

    Quando a imagem escolhida foi divulgada, no começo da semana, líderes se anteciparam para repudiá-la, entre eles Shawqi Allam, mais alta autoridade religiosa egípcia.

    Os integrantes do "Charlie" têm evitado polemizar.

    Na terça (13), quando questionado sobre a escolha de Maomé para a capa, o cartunista Renald Luzier (Luz) afirmou que a charge é apenas a de um "homem que chora".

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