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    Turismo em Israel tenta se recuperar após guerra

    MIRIAM SANGER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM JERUSALÉM

    17/01/2015 02h00

    O turismo, segmento mais sensível ao clima de instabilidade geopolítica de Israel, está tendo de criar estratégias para lidar com os impactos da guerra em Gaza de 2014 e da onda de atentados terroristas palestinos no país.

    O número de visitantes fechou 2014 com redução de 7% em relação a 2013 –foram 3,26 milhões de ingressos.

    A ofensiva contra o território palestino, em julho e agosto do ano passado, deixou 2.200 mortos, a maioria de civis. O objetivo era destruir a infraestrutura do grupo islâmico Hamas, que usa a região como base para lançar foguetes em Israel.

    Jim Hollander - 28.dez.2014/EFE
    Soldado israelense faz proteção de grupo de turistas que se banham no rio Jordão
    Soldado israelense faz proteção de grupo de turistas que se banham no rio Jordão

    Desde o final da guerra, uma série de atentados cometidos por palestinos que moram em Israel –incluindo atropelamentos– tem levado intranquilidade à população.

    O setor turístico tem impacto importante para a economia local, pois representa 6% do PIB e gera empregos para 100 mil trabalhadores.

    Segundo o Ministério do Turismo, a contribuição do segmento para a economia israelense no ano passado foi de cerca de US$ 10,5 bilhões.

    O país não foi poupado da desaceleração econômica global, e deve crescer apenas 2,5% em 2015.

    Preocupado, o governo aprovou no final do ano um pacote de US$ 130 milhões de ajuda ao setor.

    Além disso, estão sendo oferecidos treinamentos gratuitos para guias de turismo e se oferece entrada franca em diversas atrações. Em alguns pontos turísticos, a segurança foi reforçada.

    "Continuaremos a sentir os efeitos da guerra em janeiro e fevereiro, meses em que deveríamos receber os turistas que planejaram suas viagens em julho, agosto e setembro", afirmou à Folha Oni Amiel, 59, diretor de uma das maiores operadoras israelenses.

    O setor também deverá sentir o impacto da crise econômica na Rússia, que ocupa o segundo lugar no ranking de visitantes.

    Prejuízos ocasionados pela instabilidade geopolítica não são novidade para os trabalhadores e as empresas do setor turístico israelense.

    "Nunca dá para saber quando virá uma nova onda de más notícias, e a região sempre reage rapidamente a cada novo acontecimento e resolução. Quem trabalha no segmento do turismo participa dessa incógnita", afirma Jayme Fucs Bar, 56, carioca que vive em Israel desde 1982 e há seis anos trabalha como guia. Praticamente 100% de seus clientes cancelaram reservas feitas para os meses de junho a setembro.

    SEGMENTAÇÃO

    A mesma realidade foi vivida pelo guia paulista Marcio Kramer, 56. "Trabalhei bastante até a guerra. Daí, na sequência, começaram os atentados. O turismo realmente se ressentiu, o que é compreensível", disse.

    "Em novembro começamos a sentir a retomada do setor", complementou.

    Segundo Oni Amiel, são necessários de quatro a cinco meses até a normalização do fluxo de turistas. "Esse é um prazo considerado curto –anteriormente, se levava de 12 a 18 meses", afirmou.

    A criatividade tem sido a saída procurada pelo segmento. "Em lugar de tentarmos corrigir o impacto, trabalhamos na divulgação de nossos pontos positivos", disse a diretora da administração de turismo da Prefeitura de Tel Aviv, Hila Oren.

    "Apesar do que se vê na mídia, a vida em Israel segue regularmente e é impossível explicar isso para o público externo", declarou. "Estamos trabalhando para desvincular Tel Aviv, uma cidade global do Mediterrâneo, do contexto de Israel."

    A segmentação tem sido uma alternativa. Há pacotes, por exemplo, para turistas exclusivamente interessados em visitas a vinícolas, participação em maratonas e visitas a empresas start-ups ou especializadas em tecnologias agrícolas.

    O turismo gay também está em alta –Tel Aviv tem sido apontada em pesquisas como um dos melhores destinos GLS do mundo, ao lado de Barcelona e Miami.

    PONTOS

    Para o governo israelense, a imagem do país hoje não corresponde à realidade.

    "Nenhum lugar está imune a uma 'nuvem', sejam elas greves no aeroporto, transtornos climáticos ou terrorismo. Israel está suscetível a eles tanto quanto EUA ou Europa", afirmou à Folha o diretor-geral do Ministério do Turismo de Israel, Amir Halevi.

    A tradutora brasileira Arina Alba, 35, que está em Israel há sete anos, diz que mudou sua rotina desde a onda de atentados. "Passei a caminhar pelas ruas olhando para os lados", disse ela, que está fazendo as malas para voltar a viver no Brasil.

    "Para mim, Israel perdeu pontos nesses últimos meses. Esse é um tipo de violência ao qual não estou acostumada", declarou.

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