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    Grécia decide neste domingo futuro dentro da Europa

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

    25/01/2015 02h00

    Professora de escola pública na Grécia, Chrisoula Moschona, 48, teve o salário cortado em 30% desde 2010.

    O do policial Vasilis Rousofos, 34, caiu 20% no mesmo período.

    Bessie Spiliotopoulou, 52, perdeu o emprego de secretária em 2011 e nunca mais trabalhou. O marido dela, mecânico de 59 anos, viu a renda mensal cair de € 2.000 (R$ 5.800) para apenas € 800 (R$ 2.300).

    Na quinta-feira (22), todos estavam na praça Omonia, em Atenas, no último comício do partido de esquerda radical Syriza, favorito para vencer as eleições legislativas neste domingo (25).

    Em comum, sofreram na pele a crise de 2010, que levou a Grécia a receber um resgate de € 245 bilhões (R$ 710 bilhões) do BCE (Banco Central Europeu) e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

    Yannis Behrakis - 22.jan.2015/Reuters
    O líder do Syriza, partido de esquerda que lidera as pesquisas eleitorais, Alexis Tsipras, discursa no seu último comício antes das eleições, em Atenas
    O líder do Syriza, partido de esquerda que lidera as pesquisas eleitorais, Alexis Tsipras, discursa no seu último comício antes das eleições, em Atenas

    O governo grego assumiu, em troca desse socorro, compromisso de uma rígida austeridade fiscal, que incluiu cortes de salários de servidores, como os de professores e policiais. "Pagamos um preço que não deveria ser nosso", diz Rousofos.

    Ao todo, 9,8 milhões de gregos vão às urnas escolher um novo Parlamento para formar um novo governo.

    VANTAGEM

    As pesquisas apontam média de cinco pontos percentuais de vantagem do Syriza sobre o partido de centro-direita Nova Democracia, do premiê Antonis Samaras.

    Os números talvez expliquem um pouco "o fenômeno Syriza", liderado por Alexis Tsipras, que pode virar primeiro-ministro em caso de vitória.

    A Grécia deu em 2014 sinais de que saiu da recessão, mas a economia encolheu 25%, e o desemprego é o maior da Europa, em torno de 25% -entre os jovens, ele atinge 60%. A dívida pública chega a 175% do PIB.

    Ao mesmo tempo, cresceu na população a preferência por uma coligação contra a rigidez fiscal, que defende o perdão de metade da dívida do país e a renegociação do restante, além de prometer benefícios sociais.

    "É a chance de trazer prosperidade, e não austeridade e desemprego", disse à Folha Theano Fotiou, candidata pelo Syriza à reeleição a uma cadeira do Parlamento.

    Ao mesmo tempo, seu programa assusta a Europa, por ameaçar acordos no bloco e colocar sob risco as contas públicas.

    Não à toa, a Europa discute, embora ainda com timidez, uma possível saída da Grécia da zona do euro se houver essa guinada.

    "O Syriza vai deixar a Europa toda contra a Grécia", disse o premiê Antonis Samaras na noite de sexta (23), num último apelo para evitar a derrota. A chanceler alemã, Angela Merkel, afirma que não quer a saída da Grécia da zona do euro, mas já disse que o bloco sobreviveria tranquilamente sem o país.

    Lideranças europeias estarão com os olhos voltados para a Grécia neste domingo.

    "Uma vitória do Syriza pode representar o começo de uma política econômica alternativa, não só na Grécia, mas em outros países", afirmou à Folha o professor Alex Callinicos, do Instituto de Estudos Europeus do King's College, em Londres.

    "Há um sentimento na população de perda da soberania, do controle da economia para grandes potências, e isso começa a se refletir no voto", ressalta o professor.

    Pablo Iglesias, líder do partido espanhol Podemos, criado em 2014 com o discurso contra a austeridade, esteve em Atenas para declarar apoio ao Syriza.

    REGRAS DA ELEIÇÃO

    O Parlamento grego foi dissolvido em dezembro, depois que a coalizão de Antonis Samaras não conseguiu os votos necessários para eleger o novo presidente do país.

    A sua não eleição significa, em tese, que o governo perdeu maioria, e a Constituição determina novas eleições legislativas. Foi um desastre para a coalizão do Nova Democracia, porque ocorreu quando a popularidade do Syriza, uma união de tendências de esquerda, crescia.

    Ao todo, são 300 cadeiras do Parlamento. Pesquisas mostram que, hoje, o Syriza não conseguiria atingir as 151 necessárias para obter maioria e governar sozinho. Precisaria negociar uma coalizão com legendas menores para indicar o premiê.

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