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    Líder da esquerda radical, Tsipras é declarado primeiro-ministro da Grécia

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

    26/01/2015 12h15

    O líder do partido de esquerda radical Syriza, Alexis Tsipras, foi declarado oficialmente na tarde desta segunda-feira (26) o novo primeiro-ministro da Grécia.

    Tsipras reuniu-se com o presidente grego (cargo simbólico), Karolos Papoulias, no palácio presidencial, para cumprir o rito de informá-lo da maioria obtida no Parlamento e fazer o juramento.

    Vencedor das eleições legislativas realizada neste domingo (25), o Syriza selou acordo com o partido Gregos Independentes, de direita nacionalista, para formar maioria e governar o país.

    Apesar de atuarem em campos opostos da política, ambos compartilham do discurso contra as medidas de austeridade fiscal praticadas pelo governo grego, até então comandado pelo centro-direitista Nova Democracia, de Antonis Samaras.

    Ao todo, a legenda de esquerda conquistou nas eleições de domingo (25) 149 das 300 cadeiras do Parlamento, duas a menos da maioria absoluta que lhe permitiria governar sozinho. A aliança com os Gregos Independentes dará mais 13 votos no Parlamento, o necessário para um governo de coalizão.

    O acordo foi anunciado pelo líder dos Independentes, Panos Kommenos, após reunião com Tsipras na sede do Syriza, em Atenas. "O que eu posso dizer é que, a partir deste momento, há um governo", disse Kommenos aos jornalistas presentes.

    Ao discursar no domingo após o resultado, Tsipras, um jovem político de 40 anos, mandou um recado para a Europa: a troika, composta por Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Comissão Europeia, responsável pelo programa de recuperação dos países em crise baseado em medidas de austeridade fiscal, ficou no "passado".

    "A população grega fez história e deixou para trás cinco anos de humilhação e sofrimento. Vamos recuperar nossa soberania, com nossas propostas de negociação", disse o líder de esquerda.

    O resultado é um marco na história do país: um partido de esquerda radical assume o poder pela primeira vez em quase 200 anos de existência do Estado moderno grego.

    Se a esquerda comemora, por outro lado as principais lideranças europeias assistem com apreensão à vitória de um partido que defende o perdão de 50% da dívida pública, hoje em torno de € 320 bilhões (175% do PIB), e uma moratória temporária do restante.

    O seu programa promete mais benefícios sociais para os gregos, como energia de graça para 300 mil deles, moradias populares e extinção de impostos.

    ROTA DE COLISÃO

    "A eleição na Grécia vai aumentar a incerteza econômica em toda a Europa", declarou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, após a divulgação do resultado.

    O Syriza entra em rota de colisão com as potências da União Europeia porque ameaça romper compromissos financeiros firmados pelo país dentro do bloco e impactar as contas públicas da já frágil economia grega.

    Louisa Gouliamaki/AFP
    Alexis Tsipras, líder do Syriza, partido que lidera as pesquisas eleitorais, posa para fotos após votação
    Alexis Tsipras, líder do Syriza, partido que lidera as pesquisas eleitorais, posa para fotos após votação

    O discurso de campanha foi em cima das medidas de austeridade fiscal negociadas e compromissadas pela Grécia para receber em troca, desde 2010, um socorro de € 245 bilhões do FMI e do BCE.

    Para o Syriza, o ajuste fiscal, marcado por aumento de impostos e cortes de gastos em salários e cargos públicos, não melhorou a vida da população e levou a Grécia a uma dívida pública impagável.

    O que ocorreu nas urnas da Grécia deve não só representar uma nova era nas suas relações dentro da União Europeia como estimular movimentos parecidos em lugares como a Espanha, onde cresce a atuação do Podemos, partido criado em 2014 sob diretrizes antiausteridade.

    O líder da sigla espanhola, Pablo Iglesias, celebrou a vitória do Syriza. "Os gregos não têm mais um delegado de [Angela] Merkel", disse, referindo-se à chanceler alemã.

    A permanência na zona do euro certamente será tema de discussão daqui para frente, embora o partido venha negando a intenção de abandonar a moeda única.

    A Grécia, de fato, deu sinais de que saiu da recessão, pela primeira vez em seis anos, no fim de 2014. Mas apresenta, por exemplo, a maior taxa de desemprego da Europa —em torno de 25%, sendo de 60% entre os jovens. Sua economia encolheu 25% desde 2008.

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