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    Cúpula da Celac começa sob sombra de acordo entre EUA e Cuba

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    27/01/2015 02h00

    Ao acolher, em Caracas, a reunião que criaria a Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos), em dezembro de 2011, o então presidente venezuelano Hugo Chávez destacou o propósito do bloco em criar um contraponto à OEA (Organização dos Estados Americanos), "espaço manipulado pelos EUA", e a Washington.

    Três anos depois, no entanto, a terceira cúpula do bloco será realizada na Costa Rica, nesta semana, sob um novo panorama: a reaproximação entre EUA e Cuba, que promete mudar a relação de Washington com toda a região.

    Para analistas, o discurso positivo do presidente Barack Obama para a América Latina e as ações graduais sobre Cuba implementadas desde dezembro já seriam suficientes para questionar duas das principais premissas da criação da Celac: a existência de um bloco que faça frente à influência dos EUA no continente e a inclusão de Cuba num grande fórum regional.

    No último caso, acredita-se que o movimento dos dois países pode tornar o retorno de Cuba à OEA mais factível.

    "Uma das principais razões de formar a Celac foi incluir Cuba na discussão regional. Agora que os EUA começaram sua própria discussão para normalizar as relações, a principal função da Celac deixa de existir", diz o especialista Christopher Sabatini, da Universidade Columbia (EUA).

    Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas, concorda que as "circunstâncias" sob as quais a Celac foi criada "mudaram" nos últimos meses.

    "E não é só pelo acordo entre EUA e Cuba, mas também pela queda nos preços da energia, que estão mudando a dinâmica na América do Sul", observa. "Talvez os EUA, cuja economia está crescendo, tenham um papel significativo a desempenhar na região neste momento."

    Para Adrián Bonilla, professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais no Equador, contudo, a Celac não está ameaçada pela reaproximação dos EUA.

    Ele ainda considera necessário ter uma "instituição que facilite o diálogo regional tirando o enorme peso representado por Washington".

    "A reaproximação entre EUA e Cuba vai ajudar as relações entre Washington e a América Latina, mas não vai eliminar o regionalismo, que ainda é uma corrente poderosa aqui", aposta também Michael Shifter, presidente do centro de estudos Diálogo Interamericano (EUA).

    Shifter, porém, acredita que o acordo entre Cuba e EUA será o tema central "nos corredores" da cúpula, que tem como agenda formal a redução da pobreza no continente.

    "O teste [para a relevância do grupo] será se a Celac está disposta a discutir em San José problemas sérios que têm preocupado muitos membros, como a crise na Venezuela."

    Participarão da cúpula nos dias 28 e 29 líderes de ao menos 29 dos 33 países-membros, entre eles Dilma Rousseff e Raúl Castro (Cuba).

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