A milícia Houthi anunciou nesta sexta-feira (6) a dissolução do Parlamento iemenita e a criação de uma junta presidencial para governar o país provisoriamente.
O Iêmen atravessa um vácuo político desde a renúncia do presidente Abdo Rabu Mansur Hadi e do primeiro-ministro Jaled Bahah no dia 22, provocada pela escalada de violência em enfrentamentos entre as forças de segurança e milicianos xiitas na capital Sanaa.
Na chamada "declaração constitucional", transmitida desde o palácio presidencial via televisão, a liderança dos houthis anunciou a criação de um Conselho Nacional de 551 membros, que substitui o parlamento dissolvido. Ainda não está claro como serão apontados os membros do órgão.
Yahya Arhab/Efe | ||
Iemenita assiste a anúncio da milícia Houthi nesta sexta-feira (6); o parlamento do país foi dissolvido |
O Conselho deve apontar os cinco membros da junta presidencial, que comandará o Iêmen junto a um gabinete de tecnocratas por um período transitório de até dois anos, quando novas eleições parlamentares e presidenciais devem ser convocadas.
O Comitê Supremo Revolucionário, controlado pelos houthis, terá poder para referendar ou vetar todas as decisões do Conselho Nacional.
Mohammed al-Sabri, membro de uma aliança multipartidária, descreveu as ações tomadas pelos rebeldes como um golpe que pode levar ao isolamento regional e internacional do Iêmen.
"Hoje, os houthis estão tomando uma ação mal calculada", disse al-Sabri. "Eles são uma milícia, não um grupo político", completou.
CRISE POLÍTICA
A crise política no Iêmen se agravou em meados de janeiro após dias consecutivos de enfrentamentos entre os houthis e as forças de segurança iemenitas que deixaram ao menos 35 mortos e 94 feridos em Sanaa.
A tomada do palácio presidencial houthis e o cerco à residência do presidente no dia 20 levaram à renúncia de Hadi e de Bahah no dia 22.
Diante do vácuo político deixado pela renúncia do governo, os radicais estabeleceram um prazo, extrapolado nesta quarta-feira (4), para que os partidos políticos do país negociassem uma solução para a crise antes que fosse adotada uma saída unilateral.
Arte/Folha |
MAPA - ONDE FICA IÊMEN |
O grupo Houthi, também conhecido como Ansar Allah ("Seguidores de Allah", em português), é originário do norte do Iêmen e há meses tenta estender sua influência no país. O grupo iniciou uma ofensiva por recusar um novo projeto de Constituição que, dividindo o país em seis zonas, lhe privaria de acesso ao mar. Milicianos do grupo tomaram controle de uma grande parte de Sanaa em 21 de setembro.
O Iêmen, país mais pobre do Oriente Médio, vive instabilidade política e, sob esse contexto, fica também atraente para células terroristas. A Al-Qaeda, por exemplo, tem no país seu bastião.