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    Crescimento do Partido Verde no Reino Unido embaralha eleição

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    08/02/2015 02h00

    A campanha eleitoral já começou no Reino Unido com dois cenários: o conservador David Cameron será reeleito primeiro-ministro ou o trabalhista Ed Miliband vai substituí-lo numa disputa considerada a mais imprevisível da era pós-Segunda Guerra.

    Cresce a insatisfação da população com o governo de Cameron, marcado por um corte de gastos públicos pesado, ao mesmo tempo em que o Partido Trabalhista e seu líder não empolgam os britânicos para a eleição de 7 de maio.

    As pesquisas apontam os dois partidos próximos –entre 30% e 35% dos votos para cada lado–, longe de obter as 326 cadeiras do Parlamento necessárias entre as 650 para governar sozinho.

    O cenário fragmentado fez surgir recente fenômeno de popularidade: o Partido Verde, focado na bandeira da antiausteridade fiscal.

    Pesquisas o colocam na briga pela terceira posição, na faixa dos 10%, junto com a extrema direita Ukip e os Liberais Democratas, este último parceiro no governo de coalizão de Cameron.

    Em três meses, os verdes, que hoje ocupam apenas uma cadeira no Parlamento, dobraram o número de filiados, para 46 mil, atingindo o terceiro lugar, atrás dos conservadores e trabalhistas, levando o partido a reivindicar lugar nos debates na televisão.

    "O Partido Verde tem se beneficiado do sentimento geral antiestablishment e do centrismo do Partido Trabalhista, tímido em propor soluções mais radicais para os problemas do país", avalia Archie Brown, professor emérito de política da Universidade de Oxford.

    ONDA ESQUERDISTA

    A sigla, inexpressiva até então, tenta pegar carona na onda esquerdista no bloco europeu após a eleição do partido Syriza na Grécia e do crescimento do Podemos, que assombra os partidos tradicionais da Espanha.

    Os verdes deixaram de lado a retórica de "salvar o planeta" rumo ao discurso contra o corte de gastos públicos.

    "Por um longo tempo, as pessoas votaram taticamente, mas tem crescido o número dos que agora querem votar num partido em que realmente acreditam", disse à Folha a líder do partido, Natalie Bennett.

    Fortalecido após o referendo que quase separou a Escócia do Reino Unido, o SNP (Partido Nacional da Escócia) também cresceu e, segundo as pesquisas, pode tirar pelo menos 30 das 41 cadeiras que os trabalhistas escoceses ocupam em Londres.

    A Escócia sempre foi reduto histórico do Partido Trabalhista para equilibrar a predominância dos Conservadores nas cadeiras que representam a Inglaterra.

    De um lado, o Ukip, com seu discurso anti-imigração, tira votos dos conservadores. De outro, SNP e Partido Verde causam danos ao patrimônio trabalhista.

    A campanha tem girado em torno das medidas do ajuste fiscal, da estagnação do sistema público de saúde (NHS), da política de controle de imigração e da permanência na União Europeia.

    John Curtice, professor da Universidade de Strathclyde e um dos mais prestigiados especialistas em pesquisas, aponta um cenário "inédito" na história britânica.

    "Cada um desses pequenos partidos cresce por motivo diferente. O Ukip por causa da imigração, o SNP em razão do referendo, e os verdes se aproveitam da decepção com os trabalhistas", diz.

    O sistema eleitoral britânico, no entanto, pode levar à ironia política de o Partido Verde ajudar, ainda que indiretamente, a eleger um governo conservador.

    O Reino Unido é dividido em 650 áreas, e cada uma elege um representante para o Parlamento. Os verdes podem tirar votos dos trabalhistas em regiões mais disputadas com os conservadores, deixando o partido de Cameron em primeiro lugar e com cadeira garantida.

    Por isso, o crescimento do Partido Verde preocupa mais os trabalhistas do que o provável revés na Escócia, já que o SNP, distante dos conservadores, tende a apoiar Ed Miliband para formar maioria e governar.

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