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    ONU investiga genocídio contra minoria yazidi no norte do Iraque

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    ENVIADA ESPECIAL AO IRAQUE

    09/02/2015 02h00

    Mais uma vala comum de yazidis foi descoberta no Iraque neste sábado (7) – desta vez, eram 23 homens, muitos dos quais foram executados com as mãos atadas.

    Na semana passada, em uma vala comum em Khansoor, foram encontrados esqueletos de mães decapitadas com seus filhos.

    A ONU iniciou uma investigação, a ser concluída no mês que vem, para determinar se o ataque do Estado Islâmico aos yazidis configura genocídio e se houve limpeza étnica e religiosa.

    Gail Orenstein/Xinhua
    Mulher da minoria yazidi, perseguida pelo EI, carrega água em um acampamento para refugiados no Iraque
    Mulher da minoria yazidi, perseguida pelo EI, carrega água em um acampamento para refugiados no Iraque

    Segundo a Convenção para Prevenção e Repressão de Genocídio, de 1948, matar pessoas com a intenção de destruir, em parte ou totalmente, um grupo étnico, religioso, racial ou nacional, configura genocídio.

    Ao longo dos séculos, os yazidis foram vítimas de várias perseguições. Hoje são cerca de 800 mil, sendo 500 mil no norte do Iraque.

    Os yazidis são curdos, mas não são muçulmanos como a maioria da população curda.

    Sua religião mistura zoroastrismo, sufismo (ramo do islã) e cristianismo. Eles acreditam em um Deus único, que criou o mundo e o confiou a sete anjos, sendo o principal deles Malek Taus, o anjo pavão, símbolo da religião.

    Quando Deus criou o homem, Malek Taus se recusou a venerar Adão. Mas ele foi perdoado por Deus por não ter venerado alguém abaixo do ser supremo.

    A história é semelhante à do espírito Iblis no islã. Mas, no islamismo, a recusa de Iblis de honrar Adão levou à sua desgraça e ele se transformou em Satã. Daí vem a crença de alguns muçulmanos extremistas de que os yazidis adorem o demônio.

    Eles rezam de duas a três vezes por dia, de pé, com as mãos cruzadas sobre a barriga, olhando para o leste. Ninguém pode se converter à religião, e yazidis só se casam entre si. E precisam fazer peregrinação para o templo de Lalish, ao norte de Mossul.

    FUGA

    A invasão do EI na região do Sinjar em agosto do ano passado levou milhares de yazidis a fugirem para o monte Sinjar. No local, milhares ficaram dias sem água ou comida, até que a comunidade internacional resolveu intervir –a coalizão passou a fazer bombardeios e levou suprimentos para o monte.

    Calcula-se que 300 mil yazidis estejam refugiados por causa dos ataques do EI. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, não há condições para essas pessoas voltarem para casa.

    A maior parte da região de onde eles vieram continua sob domínio do EI. Nas áreas liberadas, não há água, eletricidade ou segurança.

    "Queremos ir para a Alemanha", diz Solimon Edoo, 41, refugiado em Khanke.

    Há milhares de yazidis na Alemanha e na Suécia. "Só vamos voltar para casa se houver intervenção internacional para garantir nossa segurança. Como podemos voltar se os árabes à nossa volta colaboraram com gente que estuprou nossas mulheres e irmãs e decapitou nossos filhos?"

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