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    Divididos, curdos discordam quanto à criação de um território próprio

    FABÍOLA ORTIZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    EM DIYARBAKIR (TURQUIA)

    15/02/2015 02h00

    Um racha no movimento curdo para a criação do Curdistão tem feito surgir novos partidos contrários ao uso de armas em prol da autonomia.

    Enquanto o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo armado dos anos 70, negocia com a Turquia sob sigilo, curdos discordam da condução do processo de paz.

    Com uma população de origem indo-europeia de 45 milhões de pessoas espalhadas por Turquia, Iraque, Irã e Síria, os curdos são a única nacionalidade numerosa do mundo sem território e sem direitos garantidos em nenhuma Constituição.

    Na Turquia, o Curdistão ocupa 13 cidades na região leste, tendo como capital Diyarbakir.

    Em quatro décadas, a luta pela independência deixou 40 mil mortos. Desde o fim de 2012, o presidente Recep Tayyip Erdogan iniciou negociações de paz com Abdullah Ocalan, líder do PKK preso desde 1999 na ilha de Imrali, no mar de Mármara.

    "Queremos o fim do confronto e negociamos uma solução comum. Nossa luta armada começou em 1984 e, em 2013, decidimos cessar fogo. O governo prometeu não cometer os erros do passado", disse Hatip Dicle, porta-voz do Congresso da Sociedade Democrática (DTK), braço civil do PKK.

    Segundo o porta-voz, o movimento é favorável à democracia e ao diálogo, mas não abre mão da luta armada.

    Só nas montanhas de Kandir, a 1.000 km de Diyarbakir, 20 mil guerrilheiros curdos são treinados e doutrinados. Muitos deles combatem o Estado Islâmico (EI) em cidades no Iraque e atuaram em Kobani, na Síria, onde a facção foi derrotada em janeiro.

    Boa parte dos recursos do PKK provém de doações que chegam de forma ilegal à guerrilha. "O governo não permite que recolhamos doações legalmente. Na Europa há 2 milhões de curdos, e todas as doações são enviadas secretamente", admite Dicle.

    Crítico do PKK, o analista e escritor curdo Ibrahim Guçlu destaca o tráfico de drogas, o recrutamento forçado e a coação de jovens para as montanhas de Kandir como práticas do grupo.

    "Cobranças e tarifas são impostas à população, aos comerciantes e empresários. O PKK lucra com mortes de aluguel e narcotráfico, especialmente heroína", diz.

    Na opinião de Guçlu, o atual processo de paz não tem futuro. "Eles se dizem um movimento único e não reconhecem outras formações, têm uma visão fascista."

    Mas a defesa da luta armada pelo PKK não é unânime entre os curdos. O caráter sigiloso das negociações com Ocalan é alvo de críticas. O PAK, novo partido oficializado em 11 de dezembro, defende a independência por meios exclusivamente civis e com representação em Ancara.

    "Somos a única grande nação sem terra. Fomos repartidos após a Primeira Guerra, mas nunca nos permitiram autogoverno", disse Murat Aba, um dos fundadores do PAK.

    "O PKK é uma formação ilegal; quem os representa é um líder preso que tenta administrar sua comunidade de dentro da prisão. Somos diferentes pois discutimos abertamente com a sociedade", diz.

    Só na Turquia há mais de dez partidos civis curdos, "mas são muito pequenos e não têm a força que o PKK tem", subestima Dicle.

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