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    Príncipe Charles visita túneis de esgoto que completam 150 anos

    MARCELO SOARES
    DE SÃO PAULO
    COM A ASSOCIATED PRESS

    18/02/2015 09h50 - Atualizado às 11h58

    O príncipe Charles, primeiro na sucessão ao trono britânico, saiu nesta quarta-feira (18) do luxo do Palácio de Buckingham para visitar um túnel de esgoto a 75 metros de profundidade do leste de Londres.

    A visita inusitada celebra os 150 anos do sistema de esgotos da cidade, criado pelo engenheiro Joseph Bazalgette para evitar o "Grande Fedor" causado pelo esgoto e eflúvios que eram jogados no rio Tâmisa.

    Foi o tataravô de Charles, rei Edward 7º, quem inaugurou a rede de esgotos quando era herdeiro do trono real, em 1865. Os esgotos de Bazalgette, projetados para serem usados por 2 milhões de pessoas, precisam agora dar conta de mais de 6 milhões de londrinos.

    Abbey Mills, a estação que o atual herdeiro do trono visitou, é considerada a joia da coroa do sistema vitoriano de saneamento. A parte visitada pelo príncipe é um túnel recém-completado, feito para reduzir as 39 milhões de toneladas de esgoto não tratado que são jogadas no rio a cada ano.

    O Túnel Lee, de 7 quilômetros, o mais profundo já construído nas profundezas de Londres, deve começar a ser usado em dezembro.

    É difícil, para quem conhece qualquer grande cidade em 2015, imaginar como era Londres há um século e meio, quando não havia nem esgoto e nem água encanada.

    "Quem bebe um copo de água de Londres tem literalmente em seu estômago mais seres vivos do que há homens, mulheres e crianças na face do globo", dizia o clérigo e aforista anglicano Sidney Smith, morto em 1845.

    Em 1848, 17 anos antes da inauguração dos túneis de Balzagette, uma epidemia de cólera matou 14.137 pessoas em Londres, depois que a Comissão Metropolitana de Esgotos determinou que todos os esgotos da cidade deveriam ser fechados e os dejetos canalizados para o Tâmisa.

    Uma nova epidemia veio em 1854, matando 500 pessoas em 10 dias na região do Soho, a três quarteirões de Oxford Street, numa região que concentra o comércio e famosas casas de espetáculos da capital britânica.

    John Snow, médico da rainha Vitória, mãe de Edward 7º, investigou as causas da epidemia num estudo que é considerado um marco na história da epidemiologia. A história é contada por Steven Johnson no livro "O Mapa Fantasma".

    Snow marcou num mapa das ruas da região quantas mortes ocorreram em cada casa, em cada quadra, e descobriu que as maiores concentrações estavam em torno de uma bomba d'água em Broad Street, onde os moradores pegavam água para beber.

    A água havia sido contaminada pelas fraldas de um bebê que morrera de cólera. Bebida pelos moradores - era a água de melhor qualidade da região -, levou a contaminação aos quarteirões adjacentes.

    Foi apenas quatro anos depois da epidemia de 1854 que o projeto do esgoto foi aprovado e Bazalgette foi convocado. Após a inauguração, levaria mais dez anos para o projeto ser concluído - tempo suficiente para Londres registrar mais dois surtos de cólera.

    As estações de tratamento do esgoto só viriam em 1900.

    Hoje, a meio quarteirão da bomba d'água de Broad Street, um pub homenageia o homem que tornou a região célebre e colaborou para o fim dos surtos de cólera em Londres. Chama-se "The John Snow".

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