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    Na Argentina, 400 mil pedem justiça em caso de promotor achado morto

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    18/02/2015 22h58

    Milhares de argentinos foram às ruas de várias cidades do país nesta quarta-feira (18) em marchas para lembrar um mês da morte do promotor de Justiça Alberto Nisman.

    Debaixo de chuva forte, uma multidão caminhou em Buenos Aires atrás do grupo de promotores que organizou a manifestação e seguia separado por uma corda. Segundo cálculo da Polícia Metropolitana de Buenos Aires, 400 mil pessoas estiveram na passeata na capital.

    As pessoas gritavam "justiça" e "Argentina" e levavam bandeiras do país. Não havia símbolos de partidos nem cantos políticos.

    A manifestação ocupou a principal avenida do centro da capital e seguiu até a praça de Maio, onde fica a sede do governo.

    Segundo seus organizadores, o protesto foi uma homenagem ao promotor morto em circunstâncias ainda desconhecidas.

    Mas políticos de oposição aderiram à marcha, que foi classificada por integrantes do governo e aliados como "golpismo judicial" contra a presidente Cristina Kirchner.

    Nisman foi encontrado morto em seu apartamento um dia antes de apresentar, no Congresso, documentos que, segundo ele, mostrariam ação da presidente para dificultar a investigação sobre o ataque à Amia, uma entidade judaica, em 1994.

    Na ocasião, 85 pessoas morreram.

    AFP
    Mulher segura cartaz com a foto do promotor Alberto Nisman durante a passeata em Córdoba
    Mulher segura cartaz com a foto do promotor Alberto Nisman durante a passeata em Córdoba

    O Irã é apontado como suspeito por ordenar o atentado. Cristina teria atuado para barrar a apuração por razões comerciais, segundo a tese que era defendida por Nisman, refutada pelo governo.

    Recém-chegada do Brasil, onde passou férias, a advogada argentina Estela marchava com uma amiga. Disse que estava ali pela tristeza com a morte do promotor.

    "Não somos opositores de ninguém", disse ela.

    "Nisman viveu sob escolta por muitos anos e morreu de maneira violenta, qualquer que tenha sido o motivo de sua morte", declarou.

    A primeira conclusão dos investigadores apontava para suicídio, mas evidências posteriores e contradições na apuração fortaleceram a tese de que ele teria sido morto por razões políticas.

    Lorena Dorado foi à manifestação com o marido e os três filhos pequenos.

    Foi a primeira marcha da família. "Estamos aqui pela dor de nossa gente. Nunca tínhamos ido a uma marcha antes", disse.

    Segundo ela, quando soube da morte do promotor, sentiu medo. "Estamos todos com medo, um promotor foi morto, é grave", disse ela, que afirmou não ter uma identidade partidária.

    CRISTINA

    Mais cedo, a presidente Cristina discursou em evento organizado pelo governo em uma usina nuclear a noroeste da capital. Ela não fez referência à marcha nem à morte de Nisman.

    Em mensagem de teor fortemente nacionalista, a presidente afirmou que a usina foi feita "por mentes e mão de obra argentinas".

    Militantes governistas com bandeiras e políticos acompanharam o pronunciamento, que foi transmitido em rede nacional.

    Nesta quarta-feira, parentes das vítimas do ataque à Amia foram recebidos pelo papa Francisco.

    O pontífice, que é argentino, se comprometeu a ajudar a esclarecer quem foram os responsáveis pelo atentado.

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