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    Opinião: Com nova prisão, Venezuela humilha a diplomacia brasileira

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    21/02/2015 02h00

    A Anistia Internacional fez, a respeito da prisão do prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, o que a diplomacia brasileira deveria fazer mas não faz: emitiu comunicado em que diz que "é inaceitável que se detenham indivíduos sem evidência aceitável de que tenham cometido algum delito".

    Mais: "No último ano foram detidas arbitrariamente pessoas pelo simples fato de serem opositoras ou terem visão crítica do governo".

    A propósito, a mulher de Leopoldo López, um desses prisioneiros, está avisando que a próxima a ir para a cadeia é a deputada Maria Corina Machado, arbitrariamente cassada.

    Por que a diplomacia brasileira, claramente surpreendida pelo caso Ledezma, fica quieta?

    A explicação oficiosa é a de que vocalizar críticas como a da Anistia significaria deixar o Brasil completamente descolocado para qualquer tentativa de mediação.

    O argumento até faria sentido se a própria Venezuela não estivesse constantemente humilhando a diplomacia brasileira.

    Há duas semanas, o Itamaraty festejava o fato de que uma reunião de chanceleres (do Brasil, do Equador e da própria Venezuela) havia recolocado a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) no papel de interlocutora.

    Há um ano, a mediação da Unasul, de resto solicitada pela Venezuela, foi instrumental para fazer cessar os protestos de rua, que deixaram 43 mortos.

    Acontece que o pressuposto essencial da mediação era servir de ponte para o diálogo entre o governo venezuelano e a oposição.

    O caso Ledezma, assim como prisões anteriores, evidencia que, em vez de diálogo, o governo venezuelano prefere uma inaceitável truculência.

    Ainda assim, o Brasil se presta a legitimar esse tipo de violência, ao aceitar participar de nova missão da Unasul, na semana que vem em Caracas, segundo anunciado por Ernesto Samper, o secretário-geral da Unasul.

    Esse tipo de encontro só tem sentido se for para deixar claro que o governo Nicolás Maduro ultrapassou todos os limites e precisa respeitar regras mínimas (que respeite todas as regras democráticas seria pedir demais, a esta altura).

    O Brasil deveria deixar claro também que essa história de inventar um golpe em marcha, dia sim, outro também, já não engana mais ninguém e não tapa os problemas que a incompetência do governo de Maduro deixou se amontoarem.

    É claro que não dá para dizer tal coisa publicamente, mas a portas fechadas ou o Brasil se mostra à altura do jogo democrático ou acabará desmoralizado.

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