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    Polícia mata adolescente na Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    24/02/2015 17h41

    Um tiro disparado pela polícia matou nesta terça-feira (24) um adolescente de 14 anos durante uma manifestação estudantil antigoverno em San Cristóbal, extremo oeste da Venezuela, deflagrando uma onda de revolta na cidade.

    O caso, ocorrido na mesma região onde começaram as manifestações que resultaram em 43 mortos em 2014, ocorre semanas após o governo autorizar as forças de segurança a usar armas de fogo contra protestos violentos.

    O disparo atingiu o colegial Kluyverth Roa na cabeça. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o rapaz deitado no chão, com o que aparenta ser pedaços de massa encefálica fora da cabeça. Há gritaria e tumulto.

    Eric Roa, pai de Kluyverth, disse à Folha, por telefone, que o filho não participava dos protestos dos estudantes da Universidade Católica de Táchira que ocorriam ao fim da manhã. "Meu filho só estava passando perto da universidade, como sempre fazia para pegar a ônibus. Ele morreu às 12h14 (13h44 de Brasília)", afirmou Eric.

    Reuters
    Kluiverth Roa é carregado após ser atingido durante protesto em San Cristóbal
    Kluiverth Roa é carregado após ser atingido durante protesto em San Cristóbal

    Há relatos de que Roa foi morto à queima-roupa, depois de implorar ao policial que não o matasse.

    O autor do tiro letal foi identificado pelo Ministério Público como Javier Mora Ortiz, 23, da Polícia Nacional Bolivariana. Ele está preso e confessou ter atirado com uma escopeta que dispara "balas de borracha", segundo a ministra do Interior, Justiça e Paz, Carmen Meléndez.

    Meléndez insistiu em que o assassinato foi um "ato individual" que não representa o comportamento da "nova polícia humanista".

    O pai da vítima, porém, disse que a polícia é "a pior coisa" que o governo fez.

    "Esses policiais são uns moleques de 20 e poucos anos, eles têm o gatilho fácil e não se importam em matar. Eles se divertem com o sofrimento das pessoas", afirmou.

    "Por que eles não atacam os manifestantes ou os delinquentes nas favelas?".

    O pai disse que Kluyverth era um rapaz que não tinha envolvimento político e que atuava como escoteiro. O sonho do adolescente, segundo o pai, era se tornar professor de educação física, como o irmão mais velho.

    Moradores de San Cristóbal disseram à Folha que a situação no local é tensa. Jovens montaram barricadas nas ruas e incendiaram um posto de polícia. O comércio fechou as portas, e o transporte público foi interrompido.

    San Cristóbal ficou conhecida por ser o ponto de partida dos protestos estudantis que estremeceram a Venezuela em 2014, com impacto político sentido até hoje.

    O governo diz que as manifestações eram uma tentativa de golpe. Vários líderes opositores acusados de instigar os protestos foram presos desde então, como o prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, e o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López.

    Na semana passada, o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, foi preso sob a mesma justificativa. Deputados leais a Maduro preparavam nesta terça medidas contra o deputado opositor Julio Borges, a quem pretendem cassar e denunciar por golpismo.

    A oposição diz que a única resposta do governo diante da crise econômica (que gera inflação de quase 70% e desabastecimento) é o aumento da repressão.

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