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    Grafite em teatro de SP mostra pessoas rindo de assassinato por radical do EI

    DE SÃO PAULO

    25/02/2015 21h20

    A cena de três pessoas rindo ao ver a imagem de um homem prestes a ser degolado por um membro da facção radical Estado Islâmico (EI) tem chamado a atenção de quem passa pela rua da Consolação, uma das mais movimentadas de São Paulo.

    O painel de 5 m x 5 m é obra do artista de rua Paulo Ito e foi feita na fachada do Teatro do Incêndio, a pedido da companhia.

    "Foi uma parceria com o artista e a gente deu total liberdade de criação para ele colocar a visão dele em cima da banalização da violência", diz Marcelo Fonseca, diretor artístico do teatro.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Grafite de Paulo Ito, na fachada do Teatro do Incêndio, na r. da Consolação (SP), mostra pessoas rindo de assassinato pelo EI
    Painel na fachada do Teatro do Incêndio, na r. da Consolação, com pessoas rindo de assassinato pelo EI

    À Folha, Ito disse que as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico não são o mote principal da pintura, mas a reação das pessoas a elas.

    "A cena [do EI] pontua o tema, ela não é o tema central. Essa é a leitura que algumas pessoas fizeram. O tema é a banalização da violência", afirma.

    Ito se defende de acusações de "apologia à violência" que surgiram desde que fez o grafite, no último dia 16. "Me acusam de fazer uma apologia à violência. () Se eu quisesse fazer uma apologia à violência, eu faria uma ação violenta de verdade", disse. "As pessoas vivem amedrontadas, então elas projetam o medo delas no trabalho dos outros."

    HARMONIA

    Para Fonseca, o trabalho feito por Ito está em "harmonia" com o trabalho realizado pelo teatro, que contesta a intolerância e a violência. "O que me chama a atenção é justamente as pessoas em volta rindo de uma coisa grave. Penso que é um pouco esse o retrato do mundo", afirma.

    A companhia Teatro do Incêndio já tem 20 anos, mas só em 2014 se mudou para a rua da Consolação.

    Seu diretor destaca que a arte tem a "vantagem" de fazer esse tipo de provocação. "Não podemos impedir que as pessoas deem as suas interpretações", diz. "Elas se colocam, dentro da experiência estética, onde elas querem: dentro ou fora da tela."

    Fonseca diz não temer uma rejeição por parte do público, nem considera alterar o painel. "Eu não posso mexer na obra do artista. Se eu realmente achasse que isso fizesse mal, que fosse incitar coisas, eu ia falar para mexer", afirma.

    Neste mês, a facção radical publicou um vídeo em que mostra seus militantes decapitando 21 cristãos egípcios na Líbia. Nos últimos meses, a milícia divulgou vídeos de ao menos oito reféns estrangeiros sendo executados na Síria -em um deles, o piloto jordaniano Maaz al-Kasasbeh é queimado vivo.

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