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    Estado Islâmico aparece destruindo estátuas milenares em vídeo

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI

    26/02/2015 14h21

    Apresentando a herança arqueológica em um museu iraquiano como "ídolos de povos dos séculos anteriores", militantes do Estado Islâmico divulgaram nesta quinta-feira (26) um vídeo em que destroem importantes artefatos históricos em Mossul, cidade iraquiana sob controle dos radicais desde junho.

    As imagens foram gravadas em um museu da cidade, no norte do país. A destruição é justificada pelos milicianos a partir do argumento de que Maomé, profeta do islã, destruiu os "ídolos" ao conquistar Meca, no século 7.

    No vídeo, militantes aparecem empurrando estátuas de cima de seus pedestais. As cenas das relíquias se despedaçando no chão são acompanhadas por versos do Corão, livro sagrado do islã, e sons de disparos. Outras esculturas são destruídas a marteladas.

    Editoria de Arte/Folhapress

    As relíquias destruídas pela facção já existiam quando Maomé, segundo a tradição, destruiu os ídolos de Meca. Mas, segundo o EI, esses artefatos não eram visíveis àquela época e foram posteriormente escavados por "adoradores do demônio".

    As estátuas vinham em grande parte da cidade assíria de Nínive, próxima de Mossul, segundo informações preliminares.

    Veja vídeo

    Editoria de Arte/Folhapress
    RAIO-XMossul, Iraque

    Elas têm grande valor cultural e são testemunhos da civilização assíria, que habitou o norte da mesopotâmia. Algumas das relíquias datavam no século 7 a.C.

    "Estão destruindo a herança da humanidade", diz Lionel Marti, especialista em arqueologia mesopotâmica pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica, na França. "É impossível restaurar esses artefatos, depois do dano".

    "O Estado Islâmico quer aniquilar tudo que se refira a antigas civilizações, já que para eles tudo o que veio antes do islã é nulo", afirma o pesquisador Barah Mikail, do think-tank europeu Fride, com base na Espanha.

    "É uma maneira de negar a importância de qualquer contribuição à civilização feita antes do século 7. É uma catástrofe. Estão privando o mundo dos recursos necessários para entender como seus ancestrais viveram", adicionou Mikail.

    O episódio lembra a destruição, em 2001, de duas estátuas de Buda de mais de 1.500 anos, no Afeganistão, pelo Taleban. A justificativa para ação foi de que elas representavam ídolos pagãos.

    Foram necessários 20 dias para que as estátuas de pedra da cidade de Baminyan, com alturas de 53 e 38 metros, virassem escombros. A destruição foi feita a despeito de apelos da Unesco e de diversos países.

    DANO

    As regiões tomadas ou ameaçadas pelo Estado Islâmico, um extenso território que se espalha entre Síria e Iraque, têm uma rica herança histórica que inclui artefatos de antigos impérios, como os da Babilônia e da Assíria.

    Nínive é famosa por, entre outros motivos, uma biblioteca de tabletas cuneiformes organizada por seu rei Assurbanípal (690 a.C - 627 a.C).

    Sítios arqueológicos e artefatos estão em risco na região, já que a rígida visão religiosa defendida pelo EI condena a ideia de idolatria. Também são afetados locais importantes ao próprio Islã.

    Ainda nesta semana, havia sido divulgado um saque à biblioteca da cidade, com a destruição de 100 mil livros e manuscritos, incluindo exemplares otomanos.

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