• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 02:19:34 -03

    Viagem à Venezuela é reação à atitude 'medíocre' do Itamaraty, diz senador

    MARIANA HAUBERT
    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA

    27/02/2015 12h15

    A comissão de senadores que pretende verificar in loco a situação na Venezuela foi criada diante da reação "tímida e inibida" do Executivo frente à crise política e social no país vizinho. Os parlamentares cobram uma reação mais enfática do governo Dilma Rousseff.

    "Há um mal-estar muito grande e o problema é a atitude do governo brasileiro. As notas do Itamaraty são absolutamente frias, parecem fora da realidade. Não dá para dialogar com um governo que reage com balas e bombas. As posições da chancelaria brasileira foram medíocres", afirmou à Folha o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), autor do requerimento que criou o grupo.

    Carlos Eduardo Ramirez/Reuters
    Jovem se ajoelha diante de policiais após a morte do estudante Kluiverth Roa, em San Cristóbal, Venezuela
    Jovem se ajoelha diante da polícia após morte de estudante Kluiverth Roa, em San Cristóbal, Venezuela

    Em anos recentes, segundo registros da Câmara e do Senado Federal, não houve iniciativa semelhante. Em 2013, deputados e senadores visitaram torcedores do Corinthians presos na Bolívia pela morte do jovem Kevin Espada, durante jogo entre San José e o time brasileiro.

    Em 2009, uma missão de deputados desembarcou em Tegucigalpa, Honduras, para verificar as condições na embaixada brasileira, onde estava abrigado o presidente deposto Manuel Zelaya. Em nenhum dos casos, a viagem tinha como objetivo averiguar as condições políticas e sociais de outro país.

    Ao todo, o Senado tem em seu histórico a criação de menos de 20 comissões externas. Na Câmara, somente na última legislatura (2013-2014), foram 23.

    CRONOGRAMA

    A expectativa é que o grupo defina na próxima semana a data da ida ao país vizinho. É preciso apontar ainda o número de integrantes do grupo e prazo para conclusão dos trabalhos. Segundo o regimento interno da Casa, o limite máximo é de dois anos, prazo de cada legislatura.

    Uma vez definido o cronograma, o objetivo é conversar com autoridades do governo de Nicolás Maduro, integrantes da oposição e da sociedade civil.

    Para o senador Ferraço, a Venezuela, como membro do Mercosul, tem obrigação de cumprir a chamada "cláusula democrática" prevista no Protocolo de Ushuaia e assinada pelos países do bloco em 1998.

    Segundo a Folha apurou, a formação de uma comissão externa não foi motivo de preocupações no Itamaraty. Embora a atitude não seja comum, diplomatas avaliam que a iniciativa tem como objetivo principal "marcar a posição" frente à conduta do Executivo. Da mesma forma, não se espera que o movimento crie constrangimento entre os governos. Oficialmente, a diplomacia brasileira não comentou a criação do grupo.

    O senador atribuiu o tom tímido da reação brasileira a vínculos ideológicos com Maduro e disse que o Brasil age com dois pesos e duas medidas porque teve uma posição mais forte em relação ao Paraguai quando o ex-presidente Fernando Lugo também enfrentou pressões internas.

    Durante a discussão da proposta, na quarta-feira (25), a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) foi a única que questionou a votação do requerimento pelo plenário e disse que não entendia como poderia funcionar uma comissão externa de senadores para investigar as condições de um país vizinho.

    Ferraço conversou nesta quinta-feira (26) com o secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, para pedir apoio logístico para a missão. Na semana que vem, o peemedebista deve se reunir com o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) para definir o cronograma de viagem.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024