José "Pepe" Mujica, 79, o popular presidente do Uruguai, despediu-se da população nesta sexta-feira (27) com o que chamou de "abraço simbólico" na principal praça de Montevidéu.
Ele deixa o cargo neste domingo (1º), quando passará o comando do país vizinho ao ex-presidente e aliado Tabaré Vázquez.
Em discurso breve e emocionado, Mujica se lembrou da infância e fez referência aos tempos de guerrilheiro.
"Nossa democracia começou a ficar doente porque não havia nada para dividir, e, sem nos darmos conta, caminhávamos para a confrontação", disse.
Ele completou: "Sofremos e fizemos sofrer e somos conscientes, pagamos preços enormes, mas seguimos vivos e serenos, aprendendo com a adversidade".
A multidão, com muitos jovens, ocupou menos da metade da praça Independência, que já está preparada para a posse de Tabaré.
As pessoas cantavam "olé, olé, Pepe, Pepe" e o aplaudiam. Após o discurso, grupos permaneceram sentados na grama da praça, um deles fumava maconha (o que é permitido no país).
Nos cinco anos em que esteve no poder, Mujica exportou uma imagem de um Uruguai despojado e progressista, em que o presidente anda em um Fusca azul celeste, mora em uma chácara na periferia da capital e quase nunca é visto de terno.
Em seu governo, foram aprovadas leis que permitiram o casamento gay, o aborto e a regulação da produção e consumo de maconha. Enquanto uns o admiram, outros pedem mais: educação, emprego, investimentos.
Vestida com uma camisa onde se lia "Obrigado, Pepe", Gladys Venitas, 65, tomava chimarrão, sentada em uma cadeira de praia com amigos.
"Em toda minha vida, nunca vi um presidente como ele, com a sua simplicidade. Pepe fez o Uruguai ser conhecido em todo o mundo", disse.
Foi interrompida por Juan Carlos, que passava e se meteu na conversa. Dizendo-se eleitor de Tabaré, disse que Mujica prometeu muitas coisas que não saíram do papel.
O porto de águas profundas, obra em que o presidente tentou apoio do Brasil, é um projeto empacado. "Agora vocês vão ver como Tabaré vai fazer", disse o eleitor.
Os dois presidentes são do mesmo partido, a Frente Ampla. Mas, para os uruguaios, são completamente diferentes. Mujica é o ex-guerrilheiro popular e simpático, Tabaré é o médico e gestor.
Mujica deixa o governo com aprovação elevada, ao redor de 65%, segundo as mais recentes pesquisas, divulgadas no fim de 2014.
Mariana Pomies, diretora da consultoria Cifra, que faz pesquisas de opinião, observa que a gestão Tabaré foi mais bem avaliada quando ele saiu do governo, em 2010.
"Tabaré, durante a presidência, teve mais aprovação do que Mujica. Mas Mujica tem virtudes que são incomparáveis, como a franqueza e o modo simples de dizer as coisas. Não há outro político com essas características, a forma se quebrou", afirma.
Na praça, Jonathan Ferrer, 17, usava uma máscara de Mujica feita de papel machê junto a seus vizinhos que levaram um Fusca azul celeste de papel e placas de metal.
"Queria ter votado nele", disse o jovem, que procura emprego em uma padaria. Ele conta que sua mãe votou em Tabaré e que o país melhorou com a Frente Ampla no poder, mas que faltam empregos atualmente.