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    Crise de vizinhos deve afetar novo presidente do Uruguai

    MARIANA CARNEIRO
    ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

    01/03/2015 02h00

    Tabaré Vázquez, 75, chega ao segundo mandato como presidente do Uruguai neste domingo (1º) diante de dois desafios: substituir o popular José "Pepe" Mujica e manejar a economia em um momento em que patinam seus principais parceiros, Brasil e Argentina.

    Vázquez governou o país entre 2005 e 2010, quando passou a faixa presidencial ao simpático Mujica. Nesse período, o Uruguai cresceu em média 6,7% ao ano. A boa performance ocorreu com ajuda da valorização das matérias-primas, na qual o país e os vizinhos, como o Brasil, surfaram por anos.

    Desde 2012, porém, o crescimento se moderou e agora corre risco com a fraqueza da economia no Brasil e a recessão na Argentina.

    Xinhua/Nicolás Celaya
    Tabaré Vázquez, que assume hoje a Presidência do Uruguai, em evento de despedida do antecessor, José Mujica, nesta sexta (27)
    Tabaré Vázquez, que assume hoje Presidência do Uruguai, em evento de despedida de Mujica na sexta

    "Tabaré chega ao poder com o mesmo apoio político com que chegou Mujica, mas não com a mesma situação econômica. Isso pode fazer com que as pessoas fiquem mais impacientes", afirma Mariana Pomies, diretora da consultoria Cifra.

    O presidente é do mesmo grupo político de Mujica, a Frente Ampla. Chegou ao poder no segundo turno, vencendo o conservador Luis Lacalle Pou com 53% dos votos.

    Silvia Medina, 65, estava na praça Independência na sexta (27) para se despedir de Mujica. Ela descreve Tabaré como "estudioso e um bom gestor". "Ele fez muito pelo país. Tinha muita pobreza quando ele assumiu", diz ela, que mora na periferia de Montevidéu.

    O presidente, que virou oncologista para estudar a doença que matou os pais e o irmão, militou no movimento guerrilheiro Tupamaro, assim como Mujica.

    Para os uruguaios, porém, os dois líderes são completamente diferentes.

    Tabaré mora no bairro nobre de Prado, em Montevidéu, e exibe imagem distinta da do antecessor, que se notabilizou como o "presidente mais pobre do mundo" na imprensa estrangeira.

    Para Oscar Bottinelli, da consultoria Factum, outra diferença é que Tabaré não deverá ser tão próximo dos vizinhos latino-americanos como foi Mujica.

    "Ele [Tabaré] deverá ter uma preocupação maior do que teve com a região em seu primeiro mandato, mas evidentemente menos do que Mujica", prevê ele.

    CONSERVADOR

    Entre os jovens, Tabaré é considerado mais conservador que Pepe. Quando presidente, rejeitou a lei que autorizava o aborto e demonstrou não ter simpatia pela regulação da maconha.

    Também já declarou que vai avaliar a política de acolhimento de refugiados sírios iniciada por Mujica em 2014.

    Por esse convênio, segundo a Acnur (braço das Nações Unidas para o tema), o Uruguai recebeu 42 pessoas no ano passado. As demais 72 pessoas previstas, que deveriam chegar em fevereiro, vão ter que esperar.

    "Quando ele vetou a lei do aborto, delimitou sua distância dos demais grupos de esquerda", diz a estudante de ciências sociais Maria Pires, 19. "A vantagem é que já o conhecemos, e ele terá uma segunda chance de se conciliar com esses temas."

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