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    Ministro de Israel diz que Irã é ameaça maior ao país que milícia islâmica

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    04/03/2015 02h00

    Nem a proximidade da ação da milícia radical Estado Islâmico faz com que Israel reconsidere o Irã como a principal ameaça ao país.

    Segundo o ministro de Segurança Pública de Israel, Yitzhak Aharonovitch, enquanto houver a possibilidade de Teerã produzir armas nucleares, seu governo concentrará a atenção no regime iraniano.

    Aharonovitch, 64, falou à Folha na última quinta (26), em São Paulo, antes de seguir para o Uruguai, onde representou seu premiê na posse de Tabaré Vázquez.

    Ernesto Rodrigues - 26.fev.2015/Folhapress
    Ministro de Segurança Pública de Israel, Yitzhak Aharonovitch, no hotel Tivoli, na capital paulista
    Ministro de Segurança Pública de Israel, Yitzhak Aharonovitch, no hotel Tivoli, na capital paulista

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    Folha - Qual a maior ameaça para Israel: o Estado Islâmico, que avança na Síria, ou o Irã?
    Yitzhak Aharonovitch - O Irã. No momento em que eles tiverem a capacidade de se transformar numa potência nuclear, a questão passa a ser a própria existência do Estado de Israel. Nós, como povo, já tivemos uma ameaça existencial caracterizada pelo Holocausto.
    Inimigos nunca faltaram em nossas fronteiras. Estamos levando a sério a questão do EI: são pessoas com atitudes bárbaras, mas isso não representa uma ameaça da mesma maneira que o Irã.

    O Irã começou a ajudar no combate ao EI no Iraque. Como Israel vê essa proximidade?
    Se nessa aproximação do Irã com o Ocidente também se eliminar a ameaça nuclear de Teerã, naturalmente seremos favoráveis. O que nos interessa é eliminar a ameaça existencial que paira sobre Israel.
    Nos últimos meses, atentados isolados foram cometidos por palestinos contra israelenses. Como é possível conter essas ações domésticas?
    Quando se trata de ataques ligados a organizações como a Jihad Islâmica e o Hamas, temos serviços de inteligência com meios de impedir as tentativas de atentado com bastante sucesso. No caso dos atos isolados, não temos condições de prever e de deter antes que aconteçam.

    Então evitar a ação desses indivíduos ainda é um desafio para a inteligência israelense?
    É o grande desafio que enfrentamos: conseguir ir ao encalço de uma pessoa que, num dia, acorda e resolve cometer um atentado. Uma pessoa que não é monitorada, da qual não sabemos nada.
    Mas a questão importante é a maneira como se lida com isso, e nós trabalhamos com uma reação imediata onde mora o autor do ataque: seja negando à família o pagamento da seguridade social, deportando pessoas ligadas a ele ou demolindo sua casa. É uma ação fulminante, com presença maciça de tropas para criar um efeito especial.

    Mas isso não gera mais ações?
    Esse é um dilema constante, tratado com muita seriedade pelo governo. Temos concentrado a reação em pontos específicos, para que não se criem situações de punição coletiva. Essas medidas têm se comprovado corretas e aparentemente não geraram reações. Tudo isso é feito com ordenamento jurídico.

    O aumento desse número de ações estaria sendo motivado por decisões de Israel como a expansão dos assentamentos?
    A motivação, na maioria desses casos, é de ordem pessoal, seja porque a pessoa é nacionalista, seja porque teve um membro da família preso. Não são ações ligadas a questões ideológicas ou políticas.

    Para o sr., qual a chance de a oposição chegar ao poder nas eleições deste mês?
    Eu não vou me surpreender se tivermos, no fim, uma coalizão entre forças do governo e da oposição, apesar de todos negarem essa possibilidade. Se houver um governo de unidade nacional, o que pode acontecer é partidos pequenos, que têm demandas radicais, levarem o governo a tomar posições.

    Segundo a organização não governamental Oxfam, a reconstrução de Gaza pode demorar mais de cem anos se Israel não permitir a entrada de materiais. Há possibilidade de flexibilização?
    Não existe impedimento para a passagem de material de construção, mas exigimos que haja um aparato para controlar que eles se destinem para construir escolas e hospitais, e não túneis.

    Um representante de Israel chamou o Brasil de 'anão diplomático' após críticas à ação do governo em Gaza, no ano passado. Ainda há mal-estar entre os dois países?
    A relação entre os países é muito mais forte do que as declarações de um funcionário júnior de algum ministério dadas inadvertidamente. A relação, é claro, sempre pode melhorar, e vamos fazer de tudo para isso.

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