• Mundo

    Sunday, 28-Apr-2024 18:19:24 -03

    Governo argentino acusa promotor morto de tentar desestabilizar Cristina

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    04/03/2015 12h44

    O governo da Argentina publicou um anúncio nos jornais nesta quarta-feira (4), em mais uma tentativa de ressaltar o que considera ser contradições nas acusações feitas pelo promotor Alberto Nisman, encontrado morto há mais de um mês.

    No comunicado, de página inteira, o governo afirma que, rejeitada a denúncia, "cabe perguntar qual objetivo perseguia o promotor Nisman com sua denúncia repleta de contradições, carência lógica e sustentação jurídica."

    "Pode-se pensar numa hipótese diferente que não seja a tentativa de gerar um efeito político desestabilizador?", questiona a nota.

    Editoria de Arte/Folhapress
    CRONOLOGIA DO CASO NISMAN Eventos que levaram à morte do promotor

    Nisman acusava o governo de tentar encobrir supostos envolvidos iranianos no atentado à entidade judaica Amia, em 1994. Em troca, negociava com o Irã vantagens comerciais, para comprar petróleo mais barato e vender grãos.

    A denúncia de Nisman se baseava em um memorando de entendimentos, firmado pelo governo da Argentina com o Irã, em 2013. O acordo foi criticado por lideranças judaicas no país.

    A versão do governo argentino é que buscava, por meio desse convênio, interrogar os suspeitos iranianos em seu país. Mas a Justiça iraniana vetou o acordo, porque não os considerava suspeitos. Na Argentina, a tratativa acertada pelos dois países foi vista com desconfiança.

    Se não teria êxito em interrogar os suspeitos, quais vantagens teria a Argentina em fazer um acordo com o Irã? Nisman investigava uma suposta vantagem econômica, para reduzir o estrangulamento externo do país.

    A Argentina não pode tomar dívida no mercado internacional enquanto não resolver o pagamento aos credores do calote de 2001. E suas importações de combustíveis aumentaram muito nos últimos anos, em razão de incentivos ao consumo dados pelo governo.

    O governo argentino nega esse interesse. No anúncio, reafirma que o objetivo era tentar interrogar os suspeitos.

    "[O memorando] colocaria o Estado argentino em um melhor contexto frente ao Irã e à comunidade internacional para exigir a extradição ou ao menos negociar um julgamento em um terceiro país".

    Para a comunidade judaica, com a tentativa de acordo, a Argentina sinalizou fraqueza e complacência com os suspeitos e não aceita o acordo.

    A denúncia de Nisman foi rejeitada pela Justiça na semana passada. Mas o promotor que o substituiu na causa pode apresentar um recurso e seguir com a investigação. A data limite é essa quinta (5).

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024