A delegação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) enviada a Caracas para mediar a crise na Venezuela anunciou nesta sexta (6) que o bloco criará "redes regionais de apoio" para a distribuição de certos produtos básicos para a Venezuela.
O apelo indica que o bloco regional, frequentemente acusado de leniência com o governo venezuelano, reconhece a gravidade da escassez de itens como leite, carne e açúcar, além de material de higiene pessoal e remédios.
"Trabalharemos com as autoridades da Venezuela para fortalecer as cadeias de distribuição de nossos países para que reforcem as que existem na Venezuela", disse o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, após reunião com Maduro.
Efe | ||
Presidente Nicolás Maduro se reúne com membros da Unasul no Palácio de Miraflores, em Caracas |
Samper chefiou a delegação formada pelos chanceleres Mauro Vieira (Brasil), María Ángela Holguín (Colômbia) e Ricardo Patiño (Equador).
Horas depois, Samper disse à Folha que o plano consiste em aprimorar a logística das redes de abastecimento e incrementar importação de alimentos. "O Brasil, como grande fornecedor da Venezuela, tem um papel muito importante nesse projeto, assim como outros países da Unasul", disse o secretário-geral.
Em 2014, o Brasil exportou US$ 225 milhões para a Venezuela, queda de 7% com relação ao ano anterior. A corrente bilateral de comércio foi de US$ 454 milhões, queda de 5,6% sobre 2013.
Samper não culpou o governo Maduro pela crise do abastecimento, apesar de a maioria dos economistas atribuir a escassez a distorções como controle de câmbio e de preço impostas pelo governo.
Para o secretário-geral, a dificuldade é causada pela acumulação de estoques de comida por empresários e por uma "questão psicológica" que "leva pessoas a comprarem mais do que precisam."
O posicionamento de Samper aparenta corroborar a tese do Maduro de que empresários travam uma "guerra econômica e psicológica".
Setores da oposição fizeram críticas à visita da Unasul, a quem acusaram de legitimar o governo em vez de pressioná-lo a respeitar liberdades e soltar o prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, e o ex-prefeito de Chacao, Leopoldo López, presos sob acusação de querer um golpe de Estado.
A deputada cassada Maria Corina Machado condenou os chanceleres e Samper por se recusarem a ir até a prisão militar onde estão presos Ledezma e López.
O secretário-geral da coalizão Mesa da Unidade Democrática, Jesus Torrealba, queixou-se de ter sido barrado do encontro promovido pela Igreja Católica entre a missão da Unasul e a oposição. Torrealba havia dito à reportagem, na quarta, que sua presença no encontro havia sido acertada.
Segundo disse à Folha um membro da comitiva do Equador, a Unasul só convidou "pessoas civilizadas", aparente referência a políticos favoráveis à disputa nas urnas, e não à renúncia imediata de Maduro exigida por setores radicais da oposição. Samper, porém, cobrou de Maduro que mantenha o pleito legislativo do segundo semestre.