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    Binyamin Netanyahu enfrenta risco de ser derrotado na eleição de Israel

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

    15/03/2015 02h00

    Em uma parede cinza de Tel Aviv, um grafite mostra Binyamin Netanyahu, premiê de Israel, sem camisa. "O rei está nu", descreve a legenda.

    Talvez seja assim que o líder da direita será visto nesta terça (17), quando sair o resultado das eleições israelenses que ele próprio convocou, há três meses. Ao contrário do que lhe parecia àquela época, Netanyahu pode ser derrotado em pleito histórico.

    Pesquisas divulgadas na sexta (13), as últimas permitidas por lei, indicaram a liderança da União Sionista, aliança entre o partido Trabalhista e o HaTnuah de Tzipi Livni, ex-ministra da Justiça. Seriam 25 assentos, frente aos 21 do Likud de Netanyahu.

    O resultado não significa que Isaac Herzog, líder trabalhista, será primeiro-ministro. O sistema israelense dá o cargo a quem for capaz de formar um governo com 61 assentos, e isso dependerá não apenas de seu desempenho no pleito mas também das alianças que ele estabelecer no dia seguinte.

    "É difícil prever o resultado", diz à Folha Raanan Rein, vice-presidente da Universidade de Tel Aviv. "Não consigo me lembrar de outra eleição recente em que, mesmo em cima da hora, não houvesse perspectiva clara."

    A incerteza provavelmente não fazia parte dos planos de Netanyahu quando o premiê demitiu ministros do partido de centro Yesh Atid e convocou pleito antecipado.

    Mas, nos últimos meses, cresceu o número de insatisfeitos com ele. Segundo a mídia local, o alto escalão do Likud o culpa pelo mau desempenho do partido nas urnas.

    Desgastado por seu jeito agressivo e personalista, e pai de conflitos como a recente guerra em Gaza, Netanyahu terá de lidar com um cenário negativo caso se reeleja.

    Jack Guez/AFP
    Em Tel Aviv, outdoor eletrônico mostra os rostos de Isaac Herzog (esq.) e Binyamin Netanyahu
    Em Tel Aviv, outdoor eletrônico mostra os rostos de Isaac Herzog (esq.) e Binyamin Netanyahu

    ROUPAGEM

    A nudez de Netanyahu, no entanto, não equivale a uma União Sionista bem vestida. "A direita está mais fraca, mas a esquerda não é forte o suficiente", diz Jonathan Rynhold, cientista político da Universidade de Bar Ilan.

    Tampouco há indícios de que, com uma eventual saída do premiê, haverá avanço nas negociações com palestinos.

    Se tiver mais votos e for escolhido por Reuven Rivlin, presidente israelense, para formar governo, Herzog terá um quebra-cabeça à frente.

    Uma aliança com o centrista Yesh Atid, com previsão de 11 cadeiras no Parlamento, diminuiria as chances de incluir os partidos ultraortodoxos. Yair Lapid, líder do Yesh Atid, é desafeto de religiosos.

    O apoio da Lista Compartilhada, de partidos árabes (com 13 assentos previstos), também pode ser estratégico, mas terá de ser bem planejado para se encaixar com o esquerdista Meretz (5 cadeiras).

    Há ainda a possibilidade de que o presidente force Herzog e Netanyahu a um governo de unidade. Isso poderia excluir o partido Casa Judaica (11 assentos previstos), para onde os insatisfeitos com o Likud estão indo.

    Apesar de a saída de Netanyahu depender do pleito e de habilidade política, a atmosfera é pouco favorável.

    O premiê disse, nos últimos dias, haver conspiração internacional para derrubá-lo, além de uma "campanha ilegítima" da esquerda.

    "Todos querem retirar Netanyahu do poder", diz Alberto Spectorovsky, professor de ciências políticas na Universidade de Tel Aviv.

    Incluem-se na lista potências como os EUA, descontentes com a estratégia do premiê de minar o diálogo nuclear com o Irã.

    Editoria de arte/Folhapress

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