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    Colonos de assentamentos judaicos temem vitória da esquerda na eleição

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A SHILO (CISJORDÂNIA)

    17/03/2015 02h00

    As colinas na porção norte da Cisjordânia se repetem umas às outras na paisagem, entre pedras, um solo seco e oliveiras agarradas às encostas. Aqui e ali, apanhados de casas quebram a monotonia.

    São os assentamentos judaicos na região, considerados ilegais pela lei internacional e constantemente lembrados como um dos empecilhos às negociações entre israelenses e a liderança palestina. A Cisjordânia foi ocupada por Israel em 1967.

    Os assentamentos voltam ao discurso político por outra razão: seus moradores terão um importante papel no pleito ao votar em massa na direita. Vivem cerca de 400 mil colonos judeus na Cisjordânia, ou 5% dos israelenses.

    A afinidade natural desses eleitores é o partido do ministro da Economia, Naftali Bennett. O Casa Judaica, de ideologia nacional-religiosa, tem como uma de suas premissas manter os assentamentos judaicos fixos na Cisjordânia.

    "Bennett defende a soberania israelense na Judeia e em Samaria. É simples assim", diz David Rubin, presidente de uma associação no assentamento de Shilo. Judeia e Samaria são a terminologia local da Cisjordânia, referindo-se ao passado bíblico.

    Menos simples é o cenário político israelense, em que o premiê Binyamin Netanyahu poderá tentar montar uma coalizão para um próximo governo, incluindo os assentos conquistados pela Casa Judaica (a previsão é de que sejam 11).

    Moradores de Shilo estiveram no comício de Netanyahu em Tel Aviv, no domingo (15). O jornal "Haaretz" registrou o financiamento da manifestação por organizações de colonos, a quem o governo destina verba pública.

    SOBREVIDA

    Nascido nos EUA, Rubin mudou-se para Shilo há 20 anos "para dar uma vida melhor aos nossos filhos. Acreditamos na ligação histórica do nosso povo com essa terra", afirma.

    Os anos não foram fáceis ali. A região é alvo de crítica interna e externa, e em 2001 Rubin e seu filho de então três anos foram cercados por terroristas armados com fuzis AK-47 na estrada de Jerusalém.

    Ele foi ferido na perna, a criança foi baleada na cabeça. Ambos sobreviveram.

    "Eles queriam que eu fosse embora. Mas a minha resposta foi oposta. Decidi ficar e expandir", conta Rubin.

    Ele é responsável hoje por um centro infantil que inclui de uma escola a galinheiros para ajudar no trauma enfrentado por crianças locais.

    Rubin afirma que a comunidade de Shilo vê as eleições de terça com "trepidação", preocupada com uma possível vitória da esquerda.

    Um governo liderado pela oposição, diz, poderia significar a entrega de assentamentos na Cisjordânia a palestinos. Vive-se ali sob o trauma de 2005, quando colonos foram retirados de Gaza à força pelo Exército.

    HISTÓRIA

    A argentina Veronica Gareleck mudou-se para o assentamento de Ofra em 2008.

    Levou os três filhos e teve outro ali. Religiosa, elogia a tranquilidade da vida na pequena comunidade que funciona como uma família. O cenário entre colinas é bíblico.

    "Quando falamos de Israel como 'terra santa', é a isto que estamos nos referindo. Nossa história começou aqui, mas nos expulsaram. Não pensamos que estamos ocupando a terra. Ela é nossa. A esquerda já esteve no poder e quis entregar tudo aos palestinos."

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