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    Análise: Descida do avião pode virar um grande enigma

    IGOR GIELOW
    DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

    24/03/2015 18h00

    A serem corretos os dados iniciais, retirados de sistemas de monitoramento on-line de voos, sobre o padrão de descida do Airbus-A320 da Germanwings que caiu na França, os investigadores estarão diante de um grande enigma sobre o que aconteceu na manhã desta terça (24).

    Os dados disponíveis mostram que o avião começou a descer poucos minutos após atingir sua altitude de cruzeiro de 38 mil pés (11,5 km). Em oito minutos, atingiu a altitude de 11.400 pés (3,5 km), a última registrada nos sistemas online —a Germanwings informa que a última posição registrada por radares franceses indicava que o Airbus estava a 6.000 pés (1,8 km). A montanha na qual o avião bateu tem pouco menos de 3 km de altitude.

    Editoria de Arte/Folhapress
    MUDANÇAS DE ALTITUDERegistros de radares mostram alterações no voo 4U9525

    O que se depreende disso? Se a queda foi rápida e em alta velocidade (variando de um máximo de 904 km/h para 772 km/h no último dado registrado pelo sistema FlightAware), ela não tem características de um mergulho livre ou de uma queda por perda de sustentação aerodinâmica.

    Em comparação, o acidente do voo 447 da Air France, que matou 228 pessoas na rota Rio-Paris em 2009, o avião "estolou", ou seja, perdeu sustentação e caiu praticamente de barriga no mar. A queda dos mesmos 38 mil pés durou três minutos e meio.

    Isso pode levar à especulação de que o piloto desceu propositadamente por algum tipo de problema mecânico. O mistério é que nenhum alerta foi dado da cabine de comando, o que seria perfeitamente possível em oito minutos —exceto se os pilotos tivessem perdido a consciência por uma despressurização repentina.

    Isso já aconteceu antes. Em 2005, um avião grego da Helios Airways perdeu pressão e todo mundo a bordo desmaiou. O avião seguiu voando no piloto automático até cair por falta de combustível, matando as 121 pessoas a bordo.

    O complicador aqui é que, como já estava em altitude de cruzeiro, o A320 da Germanwings teoricamente estava com seu piloto automático ligado, e não iria baixar de altitude rapidamente.

    Sempre sobrará a hipótese altamente improvável de algo premeditado por parte do piloto, mas isso só será possível especular com mais informação técnica.

    Até aqui foi encontrado apenas o gravador de voz, que poderá dar pistas sobre o que aconteceu na cabine de comando. Certamente será encontrado a caixa-preta com o registro de dados, vital para entender o que aconteceu do ponto de vista mecânico —ela registra 1.300 parâmetros operacionais diferentes.

    Além disso, os investigadores podem usar dados que por ventura tenham sido enviados pelo avião via satélite pelo sistema Acars de mensagens automáticas, se ele estiver disponível.

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