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    Cidade de copiloto vê notícia de queda intencional do voo com perplexidade

    BRUNA PASSOS AMARAL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    EM MONTABAUR (ALEMANHA)

    27/03/2015 02h00

    Na pequena Montabaur, todos ainda parecem esperar por uma notícia que inocente Andreas Lubitz de ter deliberadamente levado outras 149 pessoas à morte.

    Na praça central da cidade alemã, onde o copiloto do avião da Germanwings morava com os pais, os moradores, chocados, tentavam compreender a situação.

    "Ele não é nenhum monstro. É uma cidade pequena, todo mundo se conhece. Ainda estamos procurando respostas. Não faz sentido", afirmou a professora Birgit Leisenheimer.

    A filha de Birgit foi colega de Lubitz durante todo o ensino médio. Os jovens se formaram em 2007, e em 2008 Lubitz deu início ao curso de piloto na escola da Lufthansa em Bremen.

    "Voar sempre foi o sonho dele. Ele era um rapaz normal, bem simpático, educado", afirmou a professora.

    A notícia de que o jovem seria o culpado mudou a rotina da cidade de 12 mil habitantes. No meio do mercado de rua, jornalistas e câmeras se misturavam a vendedores. O medo de ser ligado ao copiloto ou ao caso era visível.

    "Eu não quero meu nome em lugar nenhum", disse uma aposentada que especulava as causas da tragédia com a vendedora de peixe Edeltrau Rühe. "Se ele quis se matar, problema dele, mas levar toda aquela gente junto? É um horror", afirmou ela, antes de ir embora.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A vendedora, no entanto, era mais cautelosa. "Não dá para sair julgando antes de tudo estar esclarecido. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu e, no fundo, ninguém quer acreditar que um ser humano seria capaz disso", afirmou Edeltrau.

    PROBLEMAS

    Entre os moradores que conheciam Lubitz, nenhum afirmou ter notado qualquer indício de que ele estivesse com problemas psicológicos.

    "É inacreditável que tudo isso que estão dizendo dele seja verdade. Não combina com a pessoa que era", disse o morador Klaus Radke.

    Em busca de provas ou pistas que possam ajudar a desvendar o caso, a polícia alemã fez buscas na casa de Lubitz e de seus pais em Montabaur e no apartamento do copiloto em Düsseldorf.

    Segundo comunicado oficial, nenhuma carta de despedida ou outro documento que confirme a tese de que Lubitz cometeu suicídio foi encontrado. A análise do material deve durar semanas.

    O controle de tráfego aéreo alemão confirmou ainda que, em janeiro deste ano, a ficha criminal e qualquer possibilidade de contato do copiloto com redes extremistas foram checadas, e nada foi encontrado.

    Em entrevista coletiva nesta quinta, o diretor-executivo da Lufthansa, Carsten Spohr, afirmou que houve uma interrupção no treinamento de Lubitz há seis anos.

    Um conhecido do copiloto teria informado à revista alemã "Der Spiegel" que o afastamento se deu "por causa de esgotamento ou depressão".

    Spohr, no entanto, disse apenas que, como em todos os casos de interrupção do curso, Lubitz foi examinado e só retomou o curso depois de julgado. "Ele passou em todos os exames médicos, psicológicos finais e estava tudo 100% certo com ele."

    Logo que a notícia de que Lubitz teria lançado o avião contra os Alpes franceses por vontade própria foi divulgada, seu perfil no Facebook foi deletado.

    Nele, segundo a imprensa alemã, havia a informação de que ele gostava de viajar, ouvia música eletrônica e já havia corrido uma meia-maratona. Lubitz também teria uma namorada, mas amigos dele não deram detalhes sobre a relação.

    Um vizinho da família que não quis ter seu nome divulgado, mas conhece o copiloto desde de criança, disse temer pela família de Lubitz.

    "Ele se foi, mas tem pai, mãe, um irmão mais novo. Eles todos são pessoas queridas, ninguém consegue acreditar que Andreas tenha feito isso intencionalmente."

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

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