Após o promotor de Justiça de Marselha (França) Brice Robin ter dito que o copiloto do voo 4U9525 da Germanwings, Andreas Lubitz, impediu de forma voluntária o retorno do piloto à cabine e atuou intencionalmente para chocar o avião contra os Alpes, várias associações de pilotos pelo mundo se manifestaram.

O procurador fez as declarações após ouvir trechos registrados na caixa-preta que grava os sons da cabine de comando da aeronave.

A Ifalpa (Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linha) publicou nota na internet em que "condena e deplora o vazamento de certos elementos do gravador de voz da cabine do voo 4U9525".

No texto, a federação afirma que "esses vazamentos não apenas violam os princípios internacionais de confidencialidade da investigação de acidentes estabelecidos pela Oaci [Organização da Aviação Civil Internacional] mas são também um abuso de confiança contra todos os envolvidos no inquérito e as famílias das vítimas".

"Além disso", diz a nota, "vazamentos assim prejudicam grandemente a segurança do voo, pois incitam especulações mal informadas da mídia e do público em geral e desencorajaram a cooperação com os investigadores em futuros acidentes".

O sindicato europeu dos pilotos de linha ("European Cockpit Association", ECA) criticou nesta sexta-feira (27) a Justiça francesa e a mídia por terem revelado dados da caixa-preta que grava os sons na cabine do avião.

Segundo o ECA, a divulgação dessas informações "é uma grave violação das regras fundamentais e mundialmente aceitas em matéria de investigações sobre acidentes" e "sua motivação e consequências deverão ser abordadas".

Em seu comunicado, a entidade afirma que "o nível de pressão provocado por essas revelações" desviou a atenção dos investigadores franceses, "e ela foi relegada a segundo plano devido às considerações do procurador" de Marselha.

Ainda nesta sexta, o Sindicato Nacional dos Pilotes de Linha da França (SNPL) anunciou sua decisão de ir à Justiça contra o promotor francês por "violação de segredo profissional".

	Editoria de arte/Folhapress

BRASIL

No Brasil, o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) emitiu nota em que repudia a divulgação, "por parte do promotor de Justiça de Marselha, Brice Robin, de parte do conteúdo das gravações de áudio da caixa-preta do voo 4U9525 da Germanwings".

A nota lembra que o vazamento do conteúdo das gravações "contraria princípios de acordos internacionais sobre a investigação de acidentes aéreos descritos pela Oaci".

Segundo o SNA, as causas do acidente somente podem ser avaliadas corretamente após a divulgação de um relatório final de investigação por parte das autoridades competentes.

"O vazamento parcial do conteúdo, ainda não analisado a fundo e fora de contexto, atrapalha consideravelmente o andamento das investigações e inevitavelmente leva a conclusões precipitadas e desinformação, gerando todo tipo de especulação da mídia e do público em geral", afirma a nota.

Para o sindicato, a divulgação prematura de informações representa "total falta de respeito e consideração com relação às vítimas e seus familiares".