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    Brasil se abstém na ONU sobre Irã e Síria

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    28/03/2015 01h31

    O Brasil se absteve na votação de duas resoluções na ONU sobre a situação dos direitos humanos no Irã e na Síria, nesta sexta (27). É a primeira vez, desde 2011, que o país se abstém em uma votação condenando o Irã no Conselho de Direitos Humanos da ONU, sinalizando uma inflexão na política externa.

    ONGs criticaram duramente as abstenções. "Não faz nenhum sentido o Brasil se abster, uma vez que o texto da resolução é muito parecido com os aprovados pelo Brasil anteriormente, e a situação de direitos humanos no Irã não teve nenhuma melhora", disse Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas.

    Shirin Ebadi, iraniana vencedora do Prêmio Nobel da Paz (2003), foi igualmente crítica. "Onde está a forte liderança que a presidente Dilma mostrou no passado?" afirmou. "Esperamos que Dilma preste atenção à situação de discriminação contra as mulheres no Irã e saiba que, no país, um homem pode ter quatro esposas, o testemunho judicial de duas mulheres equivale ao de um homem e, se uma mulher insistir em ir ao ginásio assistir a um jogo de vôlei, pode ser presa."

    A resolução foi aprovada com 20 votos a favor, 11 contra (entre eles Bolívia, China, Cuba, Rússia e Venezuela) e 16 abstenções. O texto renova por um ano o mandato do relator da ONU para direitos humanos no Irã e insta as autoridades a cooperarem.

    Em seu primeiro mandato, Dilma reverteu a política de aproximação com o Irã do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o governo, não há mudança agora. "Houve uma evolução na conduta dos iranianos e é necessário dar um crédito a eles", disse à Folha uma fonte diplomática. "A linguagem da resolução não acompanhou essa evolução, então nos abstivemos."

    ONGs discordam. "O Brasil não deveria se deixar enganar pelas promessas do Irã, enquanto centenas são vítimas de pena de morte no país e jornalistas estão presos.", disse Philippe Dam, da Human Rights Watch.

    O Brasil também se absteve na resolução que renova o mandato do brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro na comissão para crimes na Síria.

    O governo afirmou que a resolução ainda não reconhece "a responsabilidade de vários grupos armados da oposição, com exceção dos Daesh [acrônimo em árabe para o Estado Islâmico] e Al-Nusra, por graves violações" e que não enfatiza a necessidade de uma saída não militar.

    Para observadores, a mudança pode ser uma estratégia do Itamaraty para elevar o comércio exterior em momento de crise. A pasta nega.

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