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    Piloto gritou 'abra essa maldita porta' a copiloto; Lubitz sofria de ansiedade

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    29/03/2015 07h50

    Reprodução/Facebook/Andreas-Lubitz-co-pilote
    O copiloto Andreas Lubitz, de 27 anos, que derrubou o avião da Germanwings
    O copiloto Andreas Lubitz, de 27 anos, que derrubou o Airbus A320 da companhia alemã Germanwings

    O piloto do avião que caiu nos Alpes franceses na última terça-feira (24) —causando a morte de seus 150 ocupantes pediu aos gritos para que o copiloto, que teria derrubado deliberadamente a aeronave, que abrisse "a maldita porta" enquanto tentava arrombá-la, mostraram as gravações da primeira caixa-preta encontrada.

    Quando o copiloto, Andreas Lubitz, 27, já teria acionado o sistema de descida, e os controladores aéreos franceses tinham tentado, às 10h32, contatar sem sucesso o avião, a gravação registra o sinal de alarme automático de perda de altura, revelou neste domingo (29) o jornal alemão "Bild".

    Imediatamente depois se ouve um forte golpe, como se alguém tentasse abrir com um chute a porta da cabine, e a voz do capitão, Patrick Sondenheimer, gritando: "Pelo amor de Deus, abra a porta!".

    Ao fundo é possível ouvir os gritos dos passageiros.

    Às 10h35, quando o avião ainda estava a sete mil metros de altura, a gravação registrou "ruídos metálicos fortes contra a porta da cabine" como se ela estivesse sendo golpeada.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Noventa segundos depois, a cinco mil metros de altura, um novo alarme é ativado, e é possível ouvir o piloto gritar: "Abra essa maldita porta!".

    Às 10h38, ainda a cerca de quatro mil metros de altura, é possível ouvir a respiração do copiloto, que não diz nada.

    Às 10h40, o aparelho toca a montanha com a asa direita e de novo são ouvidos gritos dos passageiros, os últimos sons registrados pela caixa-preta.

    A hora e meia de gravação resgatada revelou também como o capitão, às 10h27 e a 11.600 metros de altura, pede ao copiloto que comece a preparar a aterrissagem em Düsseldorf e ele responde, entre outras palavras, com um "tomara" e um "vamos ver".

    ANSIEDADE

    Andreas Lubitz, que acumulava uma experiência de 630 horas de voo, sofria de transtorno de ansiedade generalizada (TAG), segundo informou neste domingo o jornal francês "Le Parisien".

    De acordo com a publicação, os médicos que o atenderam aplicaram injeções de olanzapina, que tem efeito antipsicótico, e recomendaram que Lubitz praticasse esportes para recuperar a autoconfiança.

    Lubitz também aparentava ter problemas com o sono, para o qual foi recomendado a usar o antidepressivo agomelatina.

    A promotoria de Düsseldorf informou nesta sexta-feira que encontrou documentos médicos "que apontam uma doença e o tratamento médico correspondente" na casa de Lubitz e na de seus pais, na cidade alemã de Montabaur.

    O site do jornal alemão "Die Welt" informou na semana passada que agentes da polícia acharam vários remédios para tratar um grave "transtorno psicossomático" no apartamento em Düsseldorf.

    Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (26), quando foi comunicado que as gravações permitem concluir que o copiloto derrubou intencionalmente a aeronave, que fazia o trajeto entre Barcelona (Espanha) e Düsseldorf (Alemanha), o promotor de Marselha qualificou as respostas do copiloto a seu comandante de "lacônicas".

    Após decolar com atraso de Barcelona, o comandante tinha explicado ao copiloto, entre outras coisas, que não tinha tido tempo de ir ao banheiro, e Lubitz ofereceu assumir o comando da aeronave em qualquer momento.

    Depois do controle para preparar a aterrissagem o copiloto volta a oferecer ao comandante assumir o comando para que ele possa ir ao banheiro.

    Dois minutos mais tarde, Sondenheimer diz: "Pode assumir o comando".

    Então é ouvido o barulho de uma cadeira e da porta se fechando.

    Exatamente às 10h29 o radar registrou a primeira diminuição de altitude do avião.

    PROBLEMA DE VISÃO

    O copiloto Andreas Lubitz, da companhia alemã Germanwings, teria um problema de visão.

    Segundo reportagem publicada neste sábado (28) pelo jornal americano "The New York Times", que credita essa informação a fontes oficiais ligadas a investigação, Lubitz procurou tratamento para um possível problema de visão, que, se confirmado, poderia colocar em risco suas habilidades como piloto e, inclusive, fazê-lo perder o emprego.

    Editoria de arte/Folhapress

    A revelação desse problema adiciona um novo elemento ao caso, já que nesta sexta-feira (27) a Promotoria de Düsseldorf informou ter encontrado provas de que Lubitz teria ocultado da Germanwings que sofria de uma doença psiquiátrica.

    Ainda não está claro se o problema de visão está relacionado à condição psicológica de Lubitz. Uma pessoa que acompanha de perto a investigação do caso disse que as autoridades não descartaram, porém, a possibilidade do problema nos olhos ser psicossomático.

    EX-NAMORADA

    Neste sábado, o "Bild" publicou entrevista com uma comissária de bordo identificada apenas como Maria W., de 26 anos, que afirmou ter mantido um relacionamento com Lubitz em 2014.

    De acordo com ela, o copiloto planejava um grande gesto do qual todos se lembrariam dele.

    "Quando soube do acidente, lembrei de uma frase que ele me disse algumas vezes", contou Maria. "Um dia eu farei algo que mudará o sistema, e então todos saberão meu nome e se lembrarão dele", completou ela.

    "Na época, não sabia o que ele queria dizer com isso, mas agora é óbvio", disse. "Ele fez isso porque percebeu que, devido a seus problemas de saúde, seu grande sonho de trabalhar na Lufthansa, de ter o cargo de piloto em voos de longa distância, era praticamente impossível."

    Maria ainda disse que Lubitz nunca falou muito sobre sua doença, "somente que estava em tratamento psiquiátrico".

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