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    Reino Unido espionou Argentina entre 2006 e 2011, diz TV argentina

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    02/04/2015 18h31

    Documentos revelados pelo ex-agente da CIA Edward Snowden mostram que o governo do Reino Unido espionou a Argentina entre 2006 e 2011 com o objetivo de manter a soberania sobre as Ilhas Malvinas.

    Os documentos foram revelados nesta quinta-feira (2) pelo site do canal de TV argentino "Todo Notícias", que pertence ao Grupo "Clarín".

    Segundo os papéis, a Argentina seria o principal interesse de espionagem dos britânicos na América Latina, mas também foram alvo Venezuela e Colômbia.

    Enrique Marcarian/Reuters
    Veteranos da Guerra das Malvinas, em 1982, marcham em homenagem aos mortos em Buenos Aires
    Veteranos da Guerra das Malvinas, em 1982, marcham em homenagem aos mortos em Buenos Aires

    O primeiro documento exibido é de 2008 e revela que havia um escritório de espionagem no Estado do Texas, nos EUA, de onde seriam coordenadas as operações na América do Sul.

    O documento afirma que, embora a Argentina fosse prioridade para o Reino Unido, havia demanda de serviços de inteligência na Colômbia e na Venezuela. Não há informações sobre os motivos da espionagem.

    Numa circular interna, datada de 2010, do GCHQ (quartel general de comunicações do governo britânico, na sigla em inglês), são reportados avanços na obtenção de informações de alta qualidade de líderes e militares argentinos.

    O documento informa que foram recolhidas comunicações TETRA, um sinal de rádio usado por agências governamentais, segurança pública, emergências e serviços militares.

    Esse sinal também seria usado nas ligações de celular na tecnologia GSM, segundo o "TN". Entretanto, não está claro se houve espionagem de celulares, nem quais foram os alvos do serviço de inteligência britânico.

    Outro registro revelado, dessa vez de 2011, informa que o objetivo naquele momento era verificar as relações entre Argentina e Irã. São apenas quatro linhas de um relatório que relatam que operações de espionagem cibernética no Irã e na Argentina avançaram, com trabalho adicional feito na Líbia.

    O relatório é de maio de 2011 e, segundo observa o "TN", foi elaborado em um momento em que começaram a aparecer na imprensa informações sobre um suposto acordo entre Argentina e Irã e que viraram alvo de investigação do promotor Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro deste ano.

    Nisman acusava o governo argentino de conspirar com o Irã para proteger supostos responsáveis pelo atentado à entidade judaica Amia, em 1994. Em troca, a Argentina teria vantagens comerciais.

    Revelações feitas pelo jornal "Clarín" na última semana indicam que poderia ter havido também transferências secretas de recursos do Irã para a Argentina, passando pela Venezuela, por meio de contas bancárias em instituições financeiras em paraísos fiscais, nos EUA e no Irã.

    Um dos supostos administradores dessas contas bancárias seria o filho da presidente Cristina Kirchner, sustenta o "Clarín". Máximo Kirchner negou as acusações.

    MANIPULAÇÃO

    Um dos planos do Reino Unido, segundo os documentos revelados pelo "TN", seria deflagrar uma campanha de comunicação não oficial, usando informações falsas ou apócrifas em perfis inventados nas redes sociais, com o objetivo de tentar manipular a opinião pública na Argentina em favor da ocupação inglesa das Malvinas.

    Essa operação de comunicação foi denominada internamente de Operação Quito. Mas não teria dado o resultado pretendido.

    Outro fragmento revelado pelo "TN", de novembro de 2011, mostra que há certa preocupação sobre a inclinação do continente em favor da demanda argentina de controle sobre as Malvinas e que a última esperança de frear essa tendência seria uma reunião de chanceleres no Chile.

    Poucos dias depois, o chanceler britânico, Jeremy Browne, viajaria para o país.

    O Brasil é citado nesse momento. É em um trecho em que se fala que as operações do serviço secreto britânico no Brasil "têm ficado sistematicamente abaixo das expectativas". Não está claro, porém, qual era a investigação em curso.

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