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    China expande influência com projeto de US$ 46 bilhões no Paquistão

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    20/04/2015 16h57

    A China vai investir US$ 46 bilhões (R$ 139,8 bilhões) na construção de um "corredor econômico" no Paquistão, em mais uma ação de sua hiperativa diplomacia econômica.

    O projeto consiste em uma rede de estradas, ferrovias e oleodutos de 3.000 km de extensão que abrirá para a China um novo acesso marítimo ao Oriente Médio, de onde vem metade do petróleo que o país importa.

    O acordo será assinado durante a visita ao Paquistão do líder da China, Xi Jinping, iniciada nesta segunda (20). É a primeira visita de um líder chinês ao país em nove anos e marca o aumento do envolvimento de Pequim no Paquistão em meio ao declínio da influência dos EUA.

    Li Xueren/Xinhua
    Presidente da China, Xi Jinping (esq.), cumprimenta ex-presidente paquistanês Asif Ali Zardari
    Presidente da China, Xi Jinping (esq.), cumprimenta ex-presidente paquistanês Asif Ali Zardari

    Para estreitar a relação, Xi chega com os bolsos cheios: o valor do projeto que será bancado pela China é quase três vezes o total de investimento estrangeiro direto recebido pelo Paquistão desde 2008.

    O investimento é mais uma iniciativa da política chinesa conhecida como "diplomacia da infraestrutura", que une interesses geopolíticos e econômicos.

    A estratégia ganhou força com o enorme sucesso do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, instituição criada pela China que tem a adesão de mais de 50 países, incluindo o Brasil.

    Com reservas de US$ 4 trilhões, a China tem fôlego de sobra para investir em países carentes de infraestrutura, como o Paquistão.

    Além de exportar seu excesso de capacidade em construção, o governo chinês busca facilitar o transporte da matéria-prima de que necessita para manter sua economia crescendo —neste caso, petróleo.

    A preocupação com a segurança energética é outro fator-chave. O "corredor econômico" financiado por Pequim ligará a cidade de Kashgar, na província chinesa de Xinjiang, a Gwadar, na costa do Paquistão.

    Ter um porto próximo do golfo Pérsico permitirá que as importações sejam transportadas por terra, oferecendo uma alternativa ao estreito de Málaca, por onde atualmente passam 80% do petróleo importado pela China.

    Além disso, Pequim teme sofrer os efeitos da instabilidade no Paquistão e do Afeganistão, países que fazem fronteira com a província chinesa Xinjiang, onde se concentra uma grande comunidade muçulmana.

    Assim como os EUA tentaram estabilizar o Paquistão durante a guerra no Afeganistão, a China quer conter a influência de grupos militantes paquistaneses em Xinjiang, mas promovendo o desenvolvimento econômico do país vizinho.

    O ambicioso projeto no Paquistão é mais um elemento da diplomacia econômica chinesa, que vai muito além da Ásia. Um exemplo é a Ferrovia Transoceânica, que prevê a ligação entre portos do Brasil e do Peru com participação de empresas chinesas e deve sair do papel em breve.

    Atualmente, a maior parte das importações chinesas da América do Sul passa pelo canal do Panamá, onde o custo do transporte triplicou nos últimos cinco anos.

    Uma alternativa terrestre para escoar os bilhões de dólares em minério de ferro e soja do Brasil para a China pelo Pacífico reduziria os custos de forma significativa, espera o governo de Pequim.

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